Na primeira Fila


Diz-nos o «Público», em notícias e opiniões assinadas por Ana Navarro Pedro (ANP) que o Governo francês se encontra a braços com uma crise social grave e inédita: «a revolta dos desempregados». Ao que parece, esta crise pode vir a ter desenvolvimentos imprevisíveis devido quer à gravidade da situação em que vivem milhões de desempregados quer à recusa do governo em tomar as medidas justa quer à forte determinação de lutar evidenciada por milhares desses desempregados.

Segundo dados oficiais, existem em França 3 milhões e 114 mil desempregados, dos quais 1 milhão e 200 mil são desempregados de longa duração. É claro que estes números estão aquém da realidade. Por exemplo: se um trabalhador desempregado consegue trabalho durante alguns dias deixa imediatamente de ser considerado desempregado. Lá como cá, política de direita é política de direita e o resto é paleio - seja esse paleio em francês, em português, em castelhano...

Mas voltemos à «revolta dos desempregados»: milhares de desempregados vieram para a rua apresentar as suas reivindicações e ocuparam dezenas de repartições do governo em todo país. Informa a ANP que a «acção mais espectacular ocorreu em Bordéus onde os desempregados "assaltaram" a Feira do Comércio e da indústria, retendo o director no seu escritório».

Os desempregados exigem um subsídio de Natal de 90 contos e um aumento do subsídio de desemprego. Só que a UNEDIC (organismo responsável por estas questões) recusa: a satisfação de tal exigência implicava um encargo de 9 milhões de francos, verba impossível de conciderar, não é verdade? Não! A UNEDIC - cujos ganhos provêm de quotas pagas pelos trabalhadores - teve no ano passado um excedente de 13 milhões de francos. É verdade, responde a UNEDIC, mas esses milhões já foram gastos; gastos precisamente «na redução das quotizações Patronais à caixa do desemprego»... Ora, se as quotizações dos trabalhadores foram dadas aos patrões, como é que pode haver agora dinheiro para satisfazer as reivindicações dos desempregados? Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal, não é verdade".

Entretanto, a luta dos desempregados continua. O «vulcão social» ameaça entrar em erupção: «quem semeia miséria colhe tempestades», gritavam milhares de desempregados nas ruas das principais cidades francesas. E o governo, apavorado com a situação, anunciou uma série de medidas de urgência procurando desmobilizar a luta. Por seu lado, a Central, digamos assim, sindical CFDT - pela voz de um qualquer Torres Couto, ou João Proença - acusa os sindicatos que lideram a luta de estarem a «manipular os desempregaos». E a própria ANP assinala que «a mobilização corre o risco de abalar também o mundo sindical, cuja cultura da defesa dos que têm emprego não integra ainda na sua reflexão o fenómeno de um desemprego de massa e estrutural», Estou em crer que esta opinião da ANP se dirige a sindicatos como os da CFDT. Porque ela própria nos informou dois dias antes de produzir esta análise que «os desempregados (eram) liderados pela Central Sindical (pró-comunista) CGT». E assim é, de facto. A confirmar que em todo o lado onde há violação dos direitos humanos, injustiças sociais... os comunistas lá estão: a lutar, na primeira fila. No seu lugar. — José Casanova


«Avante!» Nº 1259 - 15.Janeiro.98