Reveses dos
EUA


Depois da Guerra do Golfo, alegadamente desencadeada para castigar um país prevaricador e repor a legalidade do direito internacional, chegou a gerar-se na opinião pública a ideia que era possível obrigar Israel a reconhecer os direitos nacionais palestinianos e a encontrar uma solução justa e estável para o conflito na região.
Foi neste base que tiveram lugar a Conferência de Madrid e as negociações de Oslo. Como é reconhecido unanimemente os EUA, promotores destas iniciativas, não foram capazes de se desligar do seu protegido levando o processo a um beco sem saída. Os seus interesses hegemónicos e a sua estreita aliança com Israel acabaram por lhe causar nos últimos meses vários contratempos . A obstinada política de Netanyahu contou nas questões centrais com o apoio dos EUA. Não se pode ser parte e mediador em simultâneo.

Apesar da natureza revolucionária de alguns regimes árabes propensos à conciliação com os EUA, o certo é que a presente política norte-americana choca com as aspirações do mundo árabe. É essa a luz que os EUA coleccionaram nestes últimos meses vários insucessos. Os EUA não conseguiram levar à Conferência económica do Médio Oriente e Norte de África no Qatar mais que o Oman, o Djibuti, os Comores, e a Tunísia... Nem o Kuwait , nem a Arábia Saudita... Também não conseguiram impedir a presença de países muçulmanos a elevadíssimo nível na Conferência Islâmica realizada dias depois em Teerão, mesmo oferecendo alguns milhões a certos países. E um dia, quem de direito, explicará as pressões sofridas para não estar presente e até para a diminuição do nível de representação. Os EUA, que apadrinham a aliança de Israel com a Turquia e as manobras militares conjuntas tiveram um novo revés face ao restabelecimento da relações da Síria com o Iraque porque naturalmente a Síria se sente encurralada entre Israel, a Turquia e a política norte-americana. Não é pois de admirar que os EUA relancem as suas habituais iniciativas para tentar ganhar terreno perdido após estes falhanços. Mas face à política de confronto de Netanyahu com os palestinianos não é crível que em Washington se venha a "cozinhar" algo que faça o processo avançar. É assim natural que mesmo os países árabes que não tem posições anti-americanas não acompanham a actual política dos EUA para o Médio Oriente. Netanyahu não reconhece os direitos nacionais palestinianos, prossegue a construção de colonatos, ameaça a Síria e tenta envolver o Líbano na sua política anti-síria. Trata-se de uma política extraordinariamente perigosa que coloca toda a região à beira da explosão. Neste contexto a unidade do povo palestiniano e a unidade dos países árabes contra Israel é um elemento decisivo para a busca de uma solução que passe pela retirada das tropas israelitas de todos os territórios árabes ocupados depois de 1967 e pelo reconhecimento de um Estado palestiniano independente. Portugal tem um papel próprio a desempenhar que desde logo o prestigie junto de todo o mundo árabe e muçulmano. Deve pois ser apoiante de uma causa justa e protegida pelas resoluções 242 e 338 das Nações Unidas. Portugal deve, no quadro da União Europeia, fazer esforços para que a política da Comunidade condene claramente Israel e apoie a retirada das forças israelitas previstas nos Acordos de Oslo e no Protocolo de Hebron. Tem especial relevo o papel da solidariedade internacional. Independentemente do juízo sobre os passos dados neste processo, o certo é que Israel continua a oprimir e reprimir o povo palestiniano e a ameaçar a Síria e o Líbano, o que só por si torna necessário um amplo movimento de solidariedade.

Na Argélia prossegue o banho de sangue perpetrado pelas mãos criminosas de grupos fascistas que invocam o nome de Alá para tentarem justificar o injustificável . É uma tragédia. Os que criaram, os que armaram os vários grupos fundamentalistas para combater Nasser, o Iemen do Sul, a revolução afegã, a Síria, a OLP, falam agora em intervir na Argélia. A Argélia já contou centenas de milhares de mortos na sua História. Melhor seria que nos seus próprios países dessem combate às redes destes grupos que aterrorizam a Argélia. — Domingos Lopes


«Avante!» Nº 1259 - 15.Janeiro.98