Octávio Teixeira ao «Avante!»
Aumentos de preços desacreditam
«tecto» dos dois por cento


Ao decretar ou autorizar aumentos de preços de bens e serviços essenciais em valores muito superiores à taxa de inflação prevista para 1998, o Governo tira credibilidade aos dois por cento que desejaria impor como «tecto» salarial - sustenta o presidente do Grupo Parlamentar do PCP, em declarações ao «Avante!».

Referindo-se aos aumentos dos preços da electricidade e dos telefones (que motivaram a iniciativa do PCP de promover um debate de urgência na AR, noticiado na pág. 13 desta edição), dos transportes públicos e da água em Lisboa (divulgados segunda-feira) e de «outros que aí vêm», como as portagens ou o gás, Octávio Teixeira lembrou: «Ainda antes de 14 de Dezembro, o PCP alertou para que, após as eleições, o Governo avançaria com uma escalada de aumentos dos preços dos serviços públicos».

A escalada aí está e «vai atingir a generalidade da população», que irá sentir os aumentos de preços «já nos orçamentos familiares de Fevereiro», mais depressa do que estes se reflectirão na taxa oficial da inflação, referiu o dirigente comunista. Lembrando que subsistem «problemas relacionados com a medição da inflação», pois «em alguns casos os aumentos não têm reflexos no índice», Octávio Teixeira coloca a tónica no facto de o índice de preços no consumidor representar uma média e, como tal, conjugar várias realidades, ficando desvirtuada a realidade que é o impacto concreto dos aumentos de preços nas diferentes famílias.

«As pessoas vão sentir os aumentos quando forem fazer compras e quando lhes começarem a chegar as facturas do telefone, da electricidade, da água...», prevê aquele membro da Comissão Política do PCP, salientando que estas subidas dos preços «acabarão por ter consequências na inflação» e tornam «muito provável» que, mais uma vez, a inflação que se vai verificar acabe por ser superior à previsão declarada pelo Governo.

Com o presente cenário, os trabalhadores portugueses ficam a perder duas vezes, frisa Octávio Teixeira: pagam mais pelos bens e serviços que sobem de preço e vêem os seus aumentos salariais contidos pelos limites da taxa de inflação prevista.

Alegar que os aumentos nos transportes têm que ser maiores «por razões operacionais», como facilitar os trocos, é «uma desculpa de mau pagador» e «um pretexto inaceitável», protesta o presidente do Grupo Parlamentar do Partido, contrapondo que, se esse fosse realmente o problema, o Governo poderia proceder a aumentos apenas de dois em dois anos.

Tal como as estruturas sindicais que procurámos ouvir, Octávio Teixeira regista que «o que se sabe é o que vem referido na comunicação social». Das notícias vindas a lume, o dirigente comunista alerta para as que referem alguma semelhança entre os aumentos que se anunciam para a CP e os que antes foram divulgados pela Telecom, pois «há uma clara redução do número de quilómetros que se pode percorrer com os novos bilhetes» de comboio.

Quanto aos novos preços que a EPAL irá praticar no abastecimento de água, Octávio Teixeira cita declarações de responsáveis da empresa e do Governo, que reconhecem que uma grande parte da população sofrerá aumentos de 3 e 5 por cento, e protesta contra a opção feita, de «castigar uma parcela enorme da população, só porque tem o hábito de tomar um banho por dia».


Alguns exemplos

Durante os últimos dias, várias vozes se juntaram à do PCP na denúncia dos elevados aumentos reais dos preços praticados pela Portugal Telecom. Da Deco ao «Público» e a conhecidos analistas económicos, as contas permitiram concluir que a maioria dos portugueses vai ver a sua conta telefónica aumentada a partir do mês que vem, se mantiver o actual volume de conversação.

Com os transportes, as reacções ao anúncio dos novos preços apontaram imediatamente um facto evidente: a subida das tarifas ultrapassa a inflação que o Governo incluiu nas contas para 1998. Os exemplos são flagrantes:

As directivas governamentais para as novas tarifas da EPAL implicam uma penalização, superior à inflação prevista, para metade dos consumidores, segundo as fontes oficiais citadas na comunicação social:


«Avante!» Nº 1260 - 22.Janeiro.98