Presidência britânica da UE
Das Ilhas nada de novo


Desde Janeiro e durante os próximos seis meses a presidência rotativa da União Europeia estará a cargo da Grã-Bretanha. Seguindo a praxe, o ministro britânico dos negócios estrangeiros, Robin Cook, deslocou-se na semana passada a Estrasburgo, onde apresentou ao Parlamento Europeu as prioridades e objectivos para o semestre.

Após durante longos anos ter cultivado uma atitude peculiar face à União Europeia, que tanto irritou os demais parceiros, a atitude do novo governo britânico, protagonizada por Tony Blair, era esperada com alguma expectativa. Além da mudança de governo operada e do dito "novo estilo" introduzido pelo New Labour, as declarações relativas à Europa, que denotavam uma menor hostilidade, permitiam esperar uma Inglaterra mais cooperante.
Para o melhor e para o pior as previsões cumpriram-se. Se é verdade que a Grã-Bretanha desde sempre cultivou uma atitude de desconfiança e por vezes de hostilidade face à "construção europeia", também é verdade que esse mesmo cepticismo obrigou aqueles que queriam (e querem) avançar para uma UE federal depressa e em força a, por vezes, hesitar, a ponderar outras opções, a, pelo menos, abrandar um pouco o ritmo.
Nada disto obviamente desculpabiliza a selvagem política neo-liberal levada a cabo por Thatcher de desmantelamento do sector público, com a destruição de qualquer estrutura de apoio social e o esvaziamento dos sindicatos. E também é verdade que foi o Reino Unido quem, até há bem pouco tempo, inviabilizou a introdução de um capítulo social no Tratado da UE, o que serviu de álibi à incapacidade da União de lidar com o agravamento das condições sociais...
Robin Cook não desiludiu, começando por lembrar as promessas feitas: "Quando o governo New Labour foi eleito em Maio prometemos que transformaríamos as nossas relações com os nossos parceiros na Europa. Prometemos que a Grã-Bretanha seria um parceiro chave e empenhado na Europa. Prometemos isto porque acreditamos que quando a Europa trabalha em conjunto se pode fazer melhor por todos os países europeus."


De boas intenções...

Claro que de boas intenções está o inferno cheio e impunha-se demonstrar que, na prática, as coisas iam (vão) mudar. No entanto, o discurso britânico mudou só em relação a si próprio, adoptando um tom "euroentusiasta" e transformando-se em apenas mais uma voz do actual coro europeu. Todas as prioridades e estratégias enunciadas vêm garantir a prossecução de projectos como a moeda única e o alargamento ou a desregulamentação do mercado laboral.
Aos parlamentares europeus, o MNE britânico disse que a Grã-Bretanha assume a presidência da UE num momento em que esta se prepara para dar "dois passos históricos", a União Económica e Monetária e o alargamento a Leste. "A presidência britânica trabalhará para dar a estes dois projectos o melhor arranque possível", disse Cook. O objectivo de "assegurar o êxito do lançamento da UEM" está, assim, à cabeça das prioridades da actual presidência.
Considerando o desemprego um dos principais problemas que afectam os cidadãos europeus, a presidência britânica propõe-se dar uma resposta conforme - seguir as decisões do conselho extraordinário sobre o Emprego, que assentam na promoção de "conceitos-chave" como empregabilidade, adaptabilidade, espírito de iniciativa e igualdade de oportunidades. Recorde-se que, neste mesmo Conselho, ficou previsto que cada Estado-membro elaboraria Planos de Acção para combater o desemprego sem que, no entanto, tenham sido atribuídas verbas adicionais para a criação de postos de trabalho nem ninguém tenha assumido metas claras, ao contrário, por exemplo, do que sucedeu em relação à moeda única.
Apesar de tudo, um aspecto interessante introduzido por Cook tem a ver com a adopção de um Código de Conduta europeu para a exportação de armamento. Se considerarmos que há vários países da UE a abastecer Jacarta de armamento, como a Alemanha e a Suécia, a adopção de este Código poderia, finalmente, alterar o actual estado de coisas.
Uma pequena gota num mar de objectivos e intenções cujos resultados são por demais conhecidos.


«Avante!» Nº 1260 - 22.Janeiro.98