França
Milhares de pessoas exigem referendo
sobre a moeda única


Vinte mil pessoas sairam domingo à rua, em Paris, para exigir um referendo sobre a construção europeia e a moeda única. Desafiando a intempérie que se abateu sobre a capital francesa no fim-de-semana, os manifestantes reivindicaram que seja dada «a palavra ao povo» sobre uma matéria que sabem ser decisiva para o futuro do país.

«Euro igual a zero», uma das palavras de ordem mais ouvidas, acompanhou a exigência de «união, acção e revogação» do Tratado de Maastricht, a que os numerosos desempregados presentes na manifestação acrescentaram a sua convicção de que «o euro é contra os mínimos sociais».

A jornada pelo referendo - realizada um dia após a manifestação dos desempregados franceses, que no sábado voltaram a exigir na rua uma efectiva política de criação de emprego e de medidas de apoio aos jovens à procura de trabalho e aos desempregados de longa duração - manifesta não só as preocupações com a construção europeia que está a ser preparada à revelia dos povos, mas igualmente a consciência crescente de que é preciso intervir em defesa dos valores que dão significado à Europa social.

Convocada pelo Partido Comunista Francês e pelo Movimento dos Cidadãos, a manifestação serviu para reafirmar, como sublinhou o secretário-geral do PCF, Robert Hue, que o modelo de Europa que os franceses defendem é o que «recusa que o planeta seja o campo de batalha duma guerra onde os mercados financeiros e os países mais poderosos sacrificam os homens e as nações aos dogmas do dinheiro-rei». É tempo de deixar de falar da «Europa social, democrática, pacífica», para «passar à sua construção», disse Hue, «porque, de decepção em decepção, a Europa transformou-se em muitos casos em sinónimo de desemprego, de desregulamentação, de concorrência entre assalariados e camponeses, sinónimo de tecnocracia, sinónimo de restrições orçamentais, de cortes nos orçamentos sociais».

Para o secretário-geral do PCF, «as coisas começaram a mexer, em todos os países. Face ao eurodesemprego, assistiu-se às eurogreves, às euromanifestações». (...) «Não é o momento de afrouxar o esforço. A Europa social, a Europa da democracia, a Europa da paz não se fará sem a intervenção dos povos.»


«Avante!» Nº 1260 - 22.Janeiro.98