Alemanha
Ofensiva contra o euro


A batalha contra o euro já chegou ao plano jurídico. No Tribunal Constitucional de Karlsruhe, na Alemanha, foram entregues várias queixas com o objectivo de impedir a entrada em vigor da moeda única. A iniciativa é de quatro destacados economistas e juristas, entre os quais se conta Karl-Albrecht Schachtschneider, professor de direito público na universidade de Erlangen-Nuremberg.

A argumentação de Schachtschneider assenta em três pontos: a união monetária, no estado actual, violará o princípio constitucional de propriedade; o princípio da estabilidade, e portanto o Estado social, já que para o professor o princípio social de estabilidade não respeita apenas ao nível dos preços, mas também ao emprego, ao equilibrio externo e ao crescimento; e também ao princípio da democracia.

A queixa apresentada no Tribunal Constitucional conta ainda com as assinaturas de Wilhelm Hankel, presidente do Banco central de Hesse, Joachim Starbatty, professor de economia na universidade de Tubingen, e Wilhelm Nôlling, antigo senador das financas e depois presidente do Banco central do Land de Hamburgo, e actual membro do conselho central do Bundesbank.

Numa recente entrevista ao jornal «Libération», Wilhelm Nôlling afirma que a Alemanha cederá uma parte da sua soberania a «uma instância supranacional que não tem a mínima legitimidade democrática», e sublinha que «no seu conjunto o modelo de Maastricht não funcionará, porque a promessa de uma união política não se concretizou». Reportando-se aos problemas sociais em França, Wilhelm Nôlling interroga-se: «O que é que a França espera deste jogo com a Alemanha? Pôr a mão no controlo do dinheiro? O preço que pagará por isso será uma concorrência desenfreada com a nossa máquina insdustrial (...). E conclui: «Quer-se (a união monetária) por razões políticas, e que a economia se desembrulhe! É absurdo. O euro agravará a concorrência, o desemprego e os conflitos sociais.»

Recorda-se que uma sondagem divulgada há dias pelo semanário «Der Spiegel» revelou que 56% dos alemães estão contra a adopção do euro, o que representa um aumento de 7% em relação ao ano passado. À medida que se aproxima a data prevista para a entrada em vigor da moeda única, são cada vez menos os alemães que se manifestam a favor da substituição do marco: apenas 39 por cento contra 44 por cento no final de 1996.


«Avante!» Nº 1260 - 22.Janeiro.98