EDITORIAL

Um partido diferente


Vale a pena retomar a abordagem da recente reunião do Comité Central do PCP e as conclusões a que chegou. E porque muitas são as razões que justificam esta reabordagem - tantas que não chegaria o espaço destinado a este texto para as explicitar com o mínimo detalhe exigível - detenhamo-nos apenas numa delas.

Num momento em que tanta gente, através de tantos e tão poderosos meios, procura impor a tese de que «os partidos são todos iguais», esta reunião do Comité Central do PCP e as suas conclusões demonstraram e confirmaram a falsidade dessa tese, demonstraram e confirmaram que entre o PCP e os restantes partidos nacionais existe de facto uma profunda diferença. Com efeito, avaliando o resultado do debate travado no Comité Central - debate centrado na procura de caminhos e meios conducentes a um novo impulso na organização, na intervenção e na afirmação política do Partido - é fácil constatar que estamos perante um partido com singulares características essenciais, ou seja, que estamos perante um partido diferente de todos os outros.


Diferente nos objectivos que persegue - que outro partido há aí que assuma como objectivo essencial da sua luta e da sua intervenção a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados, a construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária, alicerçada num conceito de democracia no qual as vertentes política, económica, social e cultural se complementem em simultaneidade, assente num profundo respeito pelos direitos, pela inteligência e pela sensibilidade das pessoas?

Diferente no seu funcionamento interno - que outro partido há aí onde cada militante tem não só o direito mas o dever de intervir, de expressar e defender as suas opiniões, de as inserir no debate colectivo e de, assim, contribuir activa e conscientemente na definição das orientações e da linha política do Partido?

Diferente na sua prática de entrega abnegada à luta diária na defesa dos interesses e direitos da classe operária, dos trabalhadores em geral, do povo, do País - que outro partido há aí que coloque em primeiro lugar na escala das suas prioridades interventivas tais objectivos e que, seja em que situação for mas regra geral contra fortes ventos e marés, se possa justamente orgulhar de sempre honrar os seus compromissos e a sua palavra?

Diferente no conceito e na prática concreta de exercício do poder - que outro partido há aí que, por exemplo no Poder Local, se possa dizer, dizendo a verdade, que a prática da generalidade dos seus eleitos se pauta pelo trabalho, pela honestidade, pela competência postos ao serviço dos interesses das populações?

Diferente na utilização que dá aos votos que obtém em cada eleição - que outro partido há aí que possa dizer, sem faltar à verdade, que os seus deputados no Parlamento Europeu ou na Assembleia da República respeitam, pela sua postura, pela sua intervenção, pelo seu voto, os compromissos que, nas campanhas eleitorais, assumiram com o País e com o eleitorado?

Diferente na fidelidade a princípios e valores que constituem a matriz da sua natureza de classe e na determinação e frontalidade com que assume e integra esses princípios e valores na sua maneira de estar, de ser, de agir - que outro partido há aí que possa orgulhar-se de tamanha coerência na sua intervenção, na sua prática permanente, na sua vida?

Diferente na corajosa transparência com que assume os seus erros, as suas insuficiências, as suas debilidades e procura, através do esforço colectivo, os caminhos necessários à superação dessas situações, corrigindo o que é necessário corrigir, modificando o que é necessário modificar - que outro partido há aí que assim funcione, que assim considere, respeite e valorize a intervenção individual de cada um dos seus militantes, que assim saiba e queira utilizar o conjunto de intervenções individuais como elemento fundamental de construção da intervenção colectiva?


Assim sendo, é natural que aos adversários do PCP não interesse, antes pelo contrário, que esta diferença seja perceptível para a generalidade das portuguesas e dos portugueses. Por razões óbvias, é-lhes muito mais cómodo, e mais rentável política e eleitoralmente, difundir e procurar fazer vingar a tese de que «são todos iguais». Daí que cimentar, consolidar e afirmar esta diferença, pô-la em permanente e concreto confronto com os objectivos, práticas e posturas - no essencial uniformes - dos restantes partidos, constitua uma via essencial para conduzir ao reforço da influência do PCP em todos os planos, constitua um impulso e um motor para o aumento da expressão social, eleitoral e política do Partido e para o seu reforço orgânico.

É nesta perspectiva que, nas conclusões da reunião do Comité Central do PCP, assumem particular importância e significado as que respeitam ao novo impulso necessário ao reforço da organização, da intervenção e da afirmação política do Partido. É igualmente nesta perspectiva que assume singular dimensão o apelo dirigido à mobilização, à reflexão, à intervenção activa do colectivo partidário com vistas a, partindo das forças de que dispomos - e que são muitas - as utilizarmos organizada e inteligentemente no reforço orgânico do Partido, através nomeadamente da intensificação da militância, do aumento do número de militantes e activistas do Partido, da maior responsabilização dos militantes, do revigoramento e rejuvenescimento da organização partidária, do esforço de congregação de forças, sectores, energias e aspirações democráticas e de esquerda - num processo de cada vez mais forte, ampla e estreita ligação às massas, de crescente contributo dos comunistas para o reforço e o aumento da capacidade de intervenção das organizações representativas dos trabalhadores e das outras múltiplas estruturas do movimento associativo popular, de cada vez maior, mais forte e mais sólido envolvimento na luta pela resolução dos problemas e dos anseios dos trabalhadores e das populações, na luta pela construção e concretização de uma alternativa progressista e de esquerda à alternante aplicação, ora pelo PSD, ora pelo PS, da sua política de direita.


«Avante!» Nº 1265 - 26.Fevereiro.98