Fesete/CGTP consegue acordo com os patrões têxteis
40 horas
com pausas e sem sábados


Ao fim de 15 meses de luta dura e persistente, e depois de um processo difícil de negociação, a Federação dos Sindicatos Têxteis, Lanifícios, Vestuário e Calçado anunciou sexta-feira que chegou a acordo com as associações patronais para que a semana de trabalho seja reduzida para o máximo de 40 horas, respeitando os intervalos de 30 minutos para refeições como parte integrante do período normal de trabalho.

O acordo prevê ainda o fim do trabalho ao Sábado e um ajustamento dos salários que a Fesete/CGTP considera como «positivo no contexto actual», apesar de «não corresponder ao desejável» e que, para todos os efeitos, «representa os mínimos a aplicar com efeitos a 1 de Janeiro» deste ano.
A ponta final das negociações entre os representantes da Fesete e da Associação Portuguesa de Têxteis e Vestuário (APT) prolongou-se pela madrugada de quinta para sexta-feira. Nas últimas duas semanas tinha-se verificado um incremento das lutas em diversas empresas, sobretudo no Vale do Ave.
Cerca das duas e meia da manhã, anunciaram a sua adesão ao acordo as associações patronais de Têxteis-Lar, dos Industriais de Malhas e da Indústria de Lanifícios.
O conteúdo do acordo foi dado a conhecer na sexta-feira, em conferência de imprensa, pela Fesete, que prontamente tomou medidas para desconvocar as greves em marcha.
A partir de agora, nas empresas daqueles sectores, o período normal de trabalho não pode ser superior a 40 horas por semana; nas secções que laboram com três turnos, o período normal de trabalho diário não pode ultrapassar as 8 horas.
Na laboração em horário normal ou em dois ou três turnos, o período normal de trabalho será cumprido de segunda a sexta-feira; a única excepção é o terceiro turno de sexta-feira, que terminará às 6 ou 7 horas de sábado. Cada período de trabalho não poderá ultrapassar as seis horas consecutivas, havendo intervalos de 30 minutos, na laboração de dois ou três turnos, e entre uma e duas horas, no horário normal.
Até 31 de Março vigora um regime de transição, que permite às empresas laborar aos sábados durante um número global de 37 horas e meia por turno, remunerando os trabalhadores pelo valor da retribuição horária normal, que acresce à retribuição mensal.
As empresas podem organizar turnos especiais para a laboração de sábado a segunda-feira e nos feriados (excepto 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25 de Dezembro), mas nenhum trabalhador pode ser colocado nestes turnos contra sua vontade. Nestes turnos, o horário não poderá exceder as 12 horas e o período normal de trabalho deverá ficar nas 10 horas diárias. Ficam consagrados períodos de descanso para que não sejam prestadas mais que seis horas de trabalho consecutivas. O acordo, que entrou imediatamente em vigor, estipula ainda os termos da remuneração deste regime especial e exige uma vigilância especial do médico de trabalho.
A tabela salarial acordada tem efeitos ao primeiro dia de 1998 e aponta, como remunerações mínimas mensais, salários entre os 59 e 117 contos.

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Comissão Política do PCP saúda
importante e histórica vitória
dos trabalhadores da indústria têxtil

Ao fim de mais de 15 meses de persistente, prolongada e intensa luta, aos trabalhadores da indústria têxtil, com particular relevo para os trabalhadores do Vale do Ave, foi reconhecida pelas associações empresariais do sector uma velha e sentida aspiração - o horário semanal das 40 horas e o fim do trabalho ao Sábado -, além de outras importantes reivindicações, como a regulamentação dos turnos de fim-de-semana.

A Comissão Política saúda e felicita todos os sectores, organizações e personalidades que estiveram solidários com esta luta, todos os trabalhadores da indústria têxtil, com destaque para os trabalhadores do Vale do Ave, pelo contributo decisivo da sua luta, na conquista de tão importante e histórica reivindicação.

O acordo assinado na sexta-feira passada entre a FESETE/CGTP-IN e as principais associações empresariais do sector, reconhecendo os intervalos de turno como tempo efectivo de trabalho e pondo fim do trabalho ao Sábado, no horário normal dos trabalhadores têxteis, constitui um grande revés para um conjunto de grandes empresários da têxtil e para os divisionistas do Sindetex/UGT, mas também e sobretudo para o Governo PS e as maiorias que, na Assembleia da República, por diversas formas e sistematicamente, procuraram negar aos trabalhadores deste sector uma lei e, por interpretações abusivas, a justa e correcta aplicação do horário das 40 horas.

O que o Governo e a política de direita procuraram impedir e atrasar, há já vários anos no plano legislativo, conquistaram os trabalhadores da indústria têxtil com a sua luta num prolongado e difícil movimento grevista e de manifestações, agudizado nas duas últimas semanas com o alargamento das paralisações a outros dias que não o Sábado nas grandes empresas do Vale do Ave.

Nem tudo foi ainda conquistado, apesar do muito que já foi conseguido.

Nos sub-sectores da cordoaria, das malhas e vestuário permanece a resistência à aplicação correcta das 40 horas, em algumas grandes empresas.

A questão das pausas dos 10 minutos está longe de ser resolvida nos sub-sectores das malhas e vestuário.

A luta pela redução efectiva do horário de trabalho para as 40 horas vai ter que continuar pela aplicação do acordo. Pela contagem das pausas de 10 minutos, como tempo efectivo de trabalho, a par da luta por melhores salários face aos salários baixos que são praticados.

A Comissão Política do PCP, associando-se à alegria de milhares de trabalhadores dos têxteis, pela sua importante e histórica vitória, reafirma todo o seu apoio e solidariedade a todos os trabalhadores em luta, pela melhoria, dignificação e valorização das suas condições de trabalho.

O PCP, que desde a primeira hora esteve com os trabalhadores e a sua luta e à frente na iniciativa legislativa, continuará a bater-se pela redução e dignificação do horário de trabalho.

Lisboa, 23 de Fevereiro de 1998
A Comissão Política do PCP


«Avante!» Nº 1265 - 26.Fevereiro.98