Lei
Orgânica do TC
a moeda de troca do PS
A Assembleia da República aprovou, em votações consecutivas na generalidade, especialidade e globalidade o projecto de lei do PSD de alteração da Lei Orgânica do Tribunal Constitucional. Com o PCP e o PP a optarem pela abstenção, sem surpresa, foi o epílogo de mais um negócio entre o PS e o PSD. No caso vertente, como realçou a deputada comunista Odete Santos, "liderado não se sabe por quem (mas também não interessa) e celebrado não se sabe quando (mas também não importa)".
O que importa reter, isso
sim, é que estamos perante mais um testemunho de uma determinada
forma de estar na política e de fazer política em que os
valores e princípios são sacrificados em nome de obscuros
interesses partidários.
Mais um caso em que o PS claudicou na defesa de uma posição
tida como de princípio - a eleição uninominal dos juízes,
como prevê a actual lei - , cedendo ao método da eleição dos
juizes por lista fechada, tal como proposto pelo PSD.
Uma postura que Odete Santos não pôde deixar de condenar,
lembrando, designadamente, o facto de esta chancela do PS à
passagem da lei, ocorrer, simultaneamente, com a sua decisão de
"empurrar para o quarto dos fundos, como um problema menor,
a urgência de resolver graves problemas de saúde pública das
mulheres portuguesas".
Referia-se a deputada do PCP, obviamente, à questão da interrupção voluntária da gravidez, que, em sua opinião, funcionou como objecto de negócio entre os dois partidos. "O PS quer receber hoje a moeda de troca do referendo sobre a despenalização do aborto. Enquanto o PSD recebe a libra de carne do Mercador de Veneza", comentou, antes de lamentar que tenha sido um tal quadro a servir de pano de fundo para debater as soluções propostas para o Tribunal Constitucional.