Autonomia das escolas
Fenprof
defende
um modelo consensual
A abertura de um processo negocial com as organizações sindicais sobre o projecto de diploma de autonomia e gestão das escolas do ensino básico e secundário, é uma exigência fundamental da Federação Nacional dos Professores (Fenprof). Uma exigência que surge com base na recolha e síntese global das posições publicamente assumidas por escolas de todo o país.
António Avelãs, dirigente
da Fenprof, explicou, em conferência de imprensa realizada no
passado dia 20, que a federação propõe ao ministério
"que tenha o bom senso de abrir um processo de negociação
com todas as partes envolvidas no processo".
"Quando dizemos abrir o processo de negociação - sublinhou
- estamos a acentuar o facto de o ministério não ter
negociado nada com o sindicato dos professores".
A federação propõe, como foi referido no encontro com os
jornalistas, que "se aproveite todo o material sobre a
matéria, incluindo a posição das escolas, e se construa um
modelo que seja consensual".
Esta a perspectiva e a exigência que ressalta das sínteses de posições, nomeadamente dos sindicatos de professores de Lisboa e Porto.
De sublinhar que, de acordo com os dados recolhidos pela Fenprof junto de escolas do Norte, Centro e Sul do país, a maioria dos estabelecimentos de ensino mostrou-se contrária ao projecto de diploma do ministério.
Grande Lisboa
Uma outra
autonomia
"É necessária
uma Lei Orgânica que estabeleça o conteúdo dos
contratos-programa, defina as responsabilidades da escola e da
administração educativa e torne claros todos os
critérios", começa por sublinhar a síntese
elaborada pelo Sindicato dos Professores da Grande Lisboa.
Um ponto de partida para um alinhar de sugestões e críticas, em
que ressalta uma posição "favorável ao reforço
da autonomia das escolas, mas contra quaisquer medidas que visem
a desresponsabilização do Estado em relação às escolas e ao
ensino público".
Os professores da Grande
Lisboa consideram que "as escolas devem poder
escolher/decidir sobre o momento de adesão a um contrato de
autonomia, sem pressões nem constrangimentos", num processo
que deverá ser gradual, "acompanhado e sustentado pela
Administração, que não deverá abandonar as escolas à sua
sorte".
Simultaneamente há que ser esclarecido "o papel das
autarquias no processo, nomeadamente no que respeita às suas
responsabilidades orçamentais e de gestão da rede
escolar".
Os Conselhos Locais de Educação deverão constituir-se como
"verdadeiros órgãos descentralizados da administração
educativa e não simples estruturas consultivas das
autarquias".
Os professores alertam ainda
para que "o processo de reforço da autonomia das escolas
não deve, não pode, ser desligado da necessária e urgente
melhoria das condições de trabalho nas escolas e do estatuto
profissional dos professores".
Num apreciação global aos órgãos de gestão, a
síntese divulgada revela preocupações com a
"subalternização dos professores", considerando-se
que "sem um forte empenho e motivação dos professores
nenhum diploma passará do papel", o que exige a
valorização do seu papel e dos seus órgãos representativos.
Na síntese divulgada defende-se que o modelo de gestão
"não deve ser generalizado sem estar devidamente
esperimentado" e que "não é possível nem desejável
aplicar a mesma receita" a escolas muito diversas entre si.
Concordando com "os princípios orientadores e os objectivos
propostos no preâmbulo do projecto", os professores põem
em causa o modelo apresentado e questionam porque "se fez
tábua rasa das esperiências positivas desenvolvidas no quadro
do actual modelo de gestão e da articulação
interescolas".
O que defendem os professores do Norte
"Embora reconhecendo a validade do enquadramento teórico do projecto do ME, onde aparecem alguns dos princípios já consensualizados ao nível da Lei de Bases do Sistema Educativo, as escolas consideram genericamente que as propostas apresentadas não só não concretizam esses princípios como, em alguns casos os contrariam", refere-se na síntese elaborada pelo Sindicato dos Professores do Norte.
A partir desta apreciação global, as escolas defendem:
- uma efectiva descentralização da administração educativa, traduzida, nomeadamente, na criação de Conselhos Locais de Educação;
- a escola democrática contra a ideia de escola-empresa, o que implica uma clara responsabilização do Estado pela qualidade da Escola Pública, atenuando as assimetrias existentes entre as escolas em vez de as acentuar;
- um significativo acréscimo da autonomia para as escolas, nomeadamente no plano pedagógico, assente no reforço dos recursos a transferir e traduzida em domínios a que todas as escolas possam ter acesso;
- a manutenção de princípios claros de democraticidade no modelo de organização escolar, o que passa pela valorização e dignificação dos órgãos pedagógicos e pela recusa de qualquer caminho que conduza, ainda que não de imediato, à profissionalização da gestão."
A concluir, o Sindicato de Professores do Norte sublinha que "o desenvolvimento sustentado de percurso para o reforço da autonomia das escolas, assim como as transformações a operar ao nível do modelo orgazinacional, obrigam a que só se legisle depois de obtidos os mais alargados consensos".