O que
se sabe
Sabe-se que os trabalhadores têxteis, após uma heróica - sim, heróica, qual é a dúvida ? - luta de quinze meses, acabam de obter uma grande vitória ao vencer a batalha pelas 40 horas, pelo fim do trabalho ao sábado e pela contagem das pausas como integrando o período normal de trabalho. E sabe-se quanta e quão prolongada solidariedade, apoio e iniciativa política o PCP prestou a essa justa luta e importante causa do mundo do trabalho.
Sabe-se a polvorosa de descontentamento, indignação
e revolta que por aí vai na sociedade portuguesa contra o
aumento das tarifas telefónicas, o que constitui uma
espectacular derrota de uma das mais torpes e sofisticadas
campanhas de intoxicação da opinião pública e uma
impressionante afirmação de inteligência colectiva. E sabe-se
- até porque os cartazes que estão na rua também o ajudam a
lembrar - como foi e tem sido determinante o papel do PCP na
denúncia deste escandaloso assalto ao bolso dos cidadãos
perpetrado pela Portugal Telecom e pelo Governo.
Sabe-se , através da sondagem «Independente/Metris», que 66% dos inquiridos portugueses não concordam com um ataque dos EUA ao Iraque e que 63% são contra a governamental cedência da Base das Lajes aos EUA para esse efeito. E sabe-se que, dos quatro principais partidos, só o PCP tem dado voz, no plano da acção política e institucional, àquela corrente de opinião maioritária na sociedade portuguesa e às arrasadoras críticas feitas por personalidades muito diversas quer aos planos de agressão da Administração Clinton quer à vassalagem que o Governo português lhe prestou.
Sabe-se - embora mal, por causa do silêncio de
chumbo que muitos «media» fizeram descer sobre o facto - que,
em apenas cinco dias, cerca de quinhentas personalidades, de
quadrantes muito diversos, subscreveram uma carta ao Presidente
as AR onde manifestam «a sua maior preocupação» com o
facto de «se indiciar a paralisação e suspensão do
processo legislativo» iniciado com a aprovação da lei
sobre a IVG em 4 de Fevereiro. E onde, invocando «a
coerência que deve a si própria a maioria dos deputados que
aprovou a lei», reclamam a «urgente aprovação final da
lei». E sabe-se com que vivacidade e firmeza o PCP tem
protagonizado a crítica ao verdadeiro voto contra retroactivo
que o volte-face do PS representa e como continua a lutar para
que não fique em «águas de bacalhau» o passo positivo que,
para o combate ao aborto clandestino, a votação de há três
semanas significou.
Se tudo isto é sabido, conclua-se então que o PCP, lutando pelas suas convicções, está encontrando uma muito larga aprovação para muito do que faz e diz e que o facto de o PS e o PSD terem somado 77% dos votos não os faz comandar necessariamente a cabeça ou moldar a opinião dos portugueses.
E ora aqui está uma ideia
e um ensinamento que o Presidente da República talvez devesse
reter, sobretudo quando é noticiado - esperamos que sem
fundamento - que, embora ao arrepio das suas convicções
pessoais, estaria disponível para aceitar o plano trafulha do PS
e do PSD para referendos em simultâneo sobre a regionalização
e sobre «matéria europeia». Vítor Dias