NÃO!
Sim à Dignidade!


Ao vergar-se diante do "amigo americano", cedendo uma vez mais a base das Lages para objectivos militares agressivos da superpotência, e atendendo em particular às circunstâncias em que o fez, o governo de António Guterres evidenciou um servilismo e uma falta de escrúpulos assinaláveis. Quando a grande maioria dos aliados de Portugal na União Europeia (com excepção proverbial da Grã-Bretanha e da confusa posição da Alemanha) batiam o pé aos EUA e se pronunciavam por uma solução política negociada da crise, Jaime Gama, lesto e lampeiro, adiantava-se a romper o isolamento de Washington. Sem um qualquer sinal de discordância, de resistência, de oposição, o governo do Partido Socialista exibia-se perante a Europa e o mundo como exemplo lamentável de capitulação.


O militarismo "atlantista" de Jaime Gama é bem conhecido. Defendendo o reforço e o alargamento da NATO e a sua liderança inquestionável pelos EUA. Contrariando qualquer iniciativa minimamente apontada para a libertação da Europa da tutela dos EUA e da fortíssima presença militar norte-americana. Pugnando evidentemente pela militarização da União Europeia e pelo reforço da União da Europa Ocidental, mas claro, como " braço armado da NATO" e com articulação / dependência desta, ou seja, efectivamente subordinada à estratégia planetária do imperialismo norte-americano. Uma tal política, que tem merecido os mais rasgados elogios dos governantes dos EUA, não pode deixar de suscitar vergonha, inquietação e crescente oposição por parte de quem preza os valores da dignidade, soberania e independência nacional. De todos aqueles que vêem com inquietação o desrespeito flagrante das instituições democráticas. De quantos compreendem que tão lamentáveis posições prejudicam o interesse nacional e são susceptíveis de afectar gravemente o prestígio e o relacionamento de Portugal com outros povos, nomeadamente o mundo árabe. Dos portugueses e portuguesas que aspiram a um mundo de paz e cooperação, em bases equitativas e justas, e compreendem que as arrogantes pretensões hegemónicas dos EUA constituem sério obstáculo ao progresso social e o mais grave perigo para a própria paz e segurança internacional.


Os comunistas , PCP e JCP, foram os primeiros a opor-se ao envolvimento do país na escalada de guerra contra o Iraque e a exigir do governo uma posição consentânea com os interesses do povo português e a causa da paz. O CPPC , muitas outras organizações e associações, numerosas personalidades, fizeram também ouvir a sua voz. E, ao contrário de anteriores situações, surgiram numerosos analistas e comentadores de quadrantes muito diversos e por diferenciadas razões , apontando o dedo acusador ao insolente aventureirismo da administração Clinton e ao vergonhoso seguidismo do governo do engenheiro António Guterres. Trata-se de um elemento novo muito significativo, que facilita indiscutivelmente uma mais ampla tomada de consciência dos perigos que pesam sobre a soberania nacional e o futuro da democracia em Portugal neste limiar do século XXI.


Porque a ofensiva do capital transnacional e do imperialismo contra a soberania das nações é multifacetada e global e - ontem com o governo do PSD, hoje com o governo do PS - a linha de resistência que em Portugal lhe é oposta pelas classes dominantes praticamente nula. Em todos os campos, do económico ao militar, passando pelo diplomático e pelo cultural. Da NATO à União Europeia, do FMI à OCDE e à OMC. Numa vasta teia de Tratados, Acordos, resoluções, directivas, regulamentos, conselhos, pressões, exigências, ameaças, que, a não serem firmemente contrariados, combatidos e rechaçados, tenderiam, no limite, a matar a nação e a democracia portuguesa.


Torna-se por isso necessário promover um amplo diálogo e debate desta problemática e iniciativas concretas de esclarecimento e mobilização popular. Na linha da orientação traçada na última reunião do Comité Central, de um novo e vigoroso impulso ao fortalecimento do Partido e à sua viragem para as massas, vamos certamente dar mais força à luta do nosso povo em defesa da independência e soberania nacional e por uma política externa de paz, amizade e cooperação com todos os povos. Vamos dar mais força à luta anti-imperialista e à solidariedade internacionalista. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1265 - 26.Fevereiro.98