Encontro de Quadros em Portalegre
Mais dinheiro e mais emprego
para o Alentejo


Duas centenas e meia de quadros do PCP participaram no Encontro realizado no passado sábado em Portalegre pelo Organismo Inter-Regional do Alentejo, que contou com a presença do secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, e dos membros da Comissão Política José Soeiro e Agostinho Lopes. O encontro analisou aspectos da situação política e social, definiu as tarefas do Partido para 1998 e primeiro semestre de 1999 e examinou o trabalho de direcção do Partido, aprovando um amplo conjunto de medidas no sentido de «lançar um novo impulso na organização, intervenção e afirmação política no Alentejo».


O documento das conclusões faz várias críticas ao Governo do PS, afirmando que «a situação no Alentejo não sofreu alterações estruturais positivas com significado, mantendo-se as tendências de envelhecimento, desertificação e estagnação económica e social».
Entre as razões apontadas destaca-se a falta de reforço de «verbas quer no Orçamento de Estado, quer no Programa Operacional do Alentejo, onde mais de 25 milhões de contos de projectos das autarquias continuam a aguardar financiamento».
Na «gaveta» está também «a prometida duplicação das verbas para as autarquias enquanto o Governo procura transferir mais responsabilidades e competências sem as devidas contrapartidas financeiras».
Quanto ao Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, o Encontro reclamou «um plano de democratização de acesso à terra por parte dos trabalhadores, pequenos e médios agricultores e sobretudo dos jovens, como condição essencial para o combate à desertificação do mundo rural e para o progresso da Região».
Insistindo na necessidade de «um verdadeiro programa estratégico para o Alentejo, o Encontro frisou que o PROALENTEJO, «elaborado à revelia das instituições e parceiros sociais», não passa de «uma insuficiente e tímida tentativa de articular diferentes programas já existentes».


Desemprego elevado

O actual quadro social mostra que o Alentejo continua a ter a mais elevada taxa de desemprego do País, rondando os 17 por cento, factor que associado aos baixos salários e ao elevado número de reformados com pensões mínimas, na ordem dos 30 contos, resulta num bloqueio estrutural da região.
Deste modo e «enquanto se mantiver esta situação, o subsídio de desemprego e o rendimento mínimo garantido deverão ser assegurados com níveis de prestação social condignos». O Encontro defendeu ainda «para minimizar o problema», a manutenção dos programas ocupacionais e de formação profissional, salientando entretando que estes «não conseguem esconder a gravidade da situação e muito menos constituem o caminho para lhe dar resposta».
A degradação dos serviços de saúde suscita igualmente grandes preocupações, tendo o Encontro alertado para o perigo de «ruptura» no sistema face ao aumento do fluxo de turistas durante o período da Expo'98. As culpas vão para o Governo socialista que prossegue «no essencial a política do PSD», cujos sinais mais evidentes são a orientação privatizadora, a degradação dos serviços prestados e a crescente dificuldade de acesso por parte dos cidadãos, em particular dos idosos e deficientes.
O Encontro de Quadros acusou o PS de «continuar a fazer acordos com o PSD para impedir a regionalização» sem assumir claramente que «não quer» a criação das regiões administrativas.
Recordando a promessa não cumprida de António Guterres de realizar eleições para as regiões administrativas, em Dezembro de 1997, em simultâneo com as eleições para as autarquias locais, o Encontro manifestou «a firme disposição dos comunistas alentejanos em prosseguir a luta» pela Regionalização e nomeadamente pela Região Administrativa do Alentejo. Duras críticas foram feitas ao comportamento do PS na questão da lei sobre a interrupção voluntária da gravidez, assim como foram condenadas as «manobras do PS e do PSD em torno das alterações às leis eleitorais».


Assembleia
no final do ano

A par da reafirmação da disponbilidade dos comunistas alentejanos para participar e dinamizar iniciativas de carácter unitário que visem o progresso e bem-estar da região e das suas gentes, o Encontro aprovou um conjunto de iniciativas partidárias a realizar no decorrer de 1998 e 1º semestre de 1999. Já durante o mês de Março destacam-se as comemorações do aniversário do Partido que decorrem em todas a região. Até final de Outubro, terão lugar as assembleias das organizações de base, bem como um elevado número de assembleias de organizações concelhias. No calendário de iniciativas sobressai igualmente a homenagem a Catarina Eufémia, a 17 de Maio, e a realização em novembro de 1988, da Assembleia da Organização Regional do Alentejo, que deverá envolver os distrito de Beja, Évora, Portalegre e o Litoral Alentejano.

 

 

Novas formas de direcção
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Anunciada para o próximo mês de Novembro, a Assembleia da Organização Regional do Alentejo irá eleger um organismo de direcção, e respectivo secretariado/executivo, para toda a região, que inclui os quatro concelhos do sul do distrito de Setúbal (Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines) os distritos de Beja, Évora e Portalegre.

As novas formas de direcção incluem ainda a realização anual do Encontro de Quadros do Alentejo e a existência de quatro organismos de direcção correspondendo à quatro sub-regiões de Beja, Évora, Portalegre e Litoral. Tanto o organismo de direcção para todo o Alentejo como os quatro organismos para as sub-regiões deverão ser eleitos na Assembleia da Organização, sendo o primeiro pela totalidade dos delegados e os restantes pelos delegados das respectivas organizações.

O Encontro decidiu ainda dinamizar a realização, até 31 de Outubro próximo, das assembleias das organizações de base (células e sectores) e recomendar a escolha do coordenador pelos respectivos organismos, de acordo com a resolução do XIII Congresso no sentido de «estimular o trabalho e valorizar o papel de um responsável ou de um coordenador de um dado organismo, tendo sempre presente o acompanhamento regular por parte do organismo superior e o reforço do trabalho colectivo do organismo».

É igualmente referida a resolução do Comité Central de 14 e 15 de Fevereiro sobre «a possibilidade da escolha ou eleição, no âmbito do organismo, do ou da camarada que vai cordenar e dinamizar o funcionamento do colectivo». Sobre este aspecto, o Encontro considerou que «a escolha do coordenador do organismo corresponde a uma necessidade actual que pode e deve contribuir para desenvolver a iniciativa e vida próprias dos organismos e respectivas organizações e para uma maioria responsabilização individual e colectiva e possibilitar a disponibilização de quadros para o trabalho de direcção».

Foi ainda apontado como desejável a realização anual das assembleias das organizações de base, sempre que possível nos meses de Setembro e Outubro, as quais deverão eleger os respectivos delegados e suplentes às assembleias da Organização Regional do Alentejo e das respectiva organização concelhia.

O Encontro pronunciou-se pela necessidade de «incentivar os organismos de direcção e todos os quadros da região a determinar em concreto a organização ou organismo de base em que cada quadro deve participar ou integrar-se no sentido de uma profunda revalorização e impulso ao seu funcionamento e a um mais completo e integral aproveitamento do enorme capital de experiência política e o simultâneo enriquecimento de muitos quadros».


O reforço das organizações


No quadro da preparação das assembleias das organizações de base, o Encontro de Quadros aprovou um conjunto de orientações que visa o reforço e renovação da organização e dinamização da actividade partidária. Nomeadamente refere-se a necessidade de na eleição do organismo dirigente chamar «um elevado número de jovens» e proceder de imediato à distribuição das tarefas.

Depois de efectuarem «o levantamento dos principais problemas existentes no local de trabalho, sector ou freguesia», os comunistas devem «definir medidas concretas, apontar soluções, lutar pela sua resolução e responsabilizar alguém pela dinamização dessas medidas. Nas freguesias e concelhos onde somos maioria no poder local ver quais as obras de maior interesse a concretizar e dar particular atenção às pequenas obras que contribuam para o bem estar das pessoas e o embelezamento das povoações».
Entre os objectivos políticos a definir e alcançar pelas organizações o Encontro salientou a dinamização de estruturas dos movimentos sociais e populares, o aumento das votações no Partido, o fortalecimento do movimento associativo e o reforço da influência dos comunistas neste.
Destacam-se por fim os objectivos orgânicos tais como metas de recrutamento, o aumento do valor e do número de quotas a receber e o aumento de leitores do «Avante!». O Encontro recomendou que «no decorrer da própria assembleia deve ser preenchida uma pequena ficha por todos os presentes onde cada um assuma individualmente os seus próprios objectivos, ou seja o valor da sua quota, a sua disponibilidade para assinar o Avante! e a sua meta de recrutamento de novos membros para o Partido».


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Acordo secreto dá novos poderes ao capital
- denuncia Carlos Carvalhas

Intervindo no encerramento do Encontro, Carlos Carvalhas, Secretário-Geral abordou os problemas da Integração Europeia, nomeadamente as questões da Agenda 2000 e a quebra dos Fundos Estruturais que está consubstanciada na proposta da Comissão e que se traduz na diminuição de 500 milhões de contos. Disse também ser «inaceitável que o Governo não informe os portugueses do que está em negociação quer em relação à Agenda 2000, quer em relação ao Acordo Multilateral de Investimento (A.M.I.), que é um acordo que tem estado a ser negociado em segredo e que há quem o classifique como um verdadeiro "Plano fascista", uma verdadeira "declaração universal dos direitos do grande capital". De facto tal Acordo procura dar todos os poderes às multinacionais, que passariam a ter direitos superiores aos dos Estados nacionais. E sobre esta questão o Governo português tem-se remetido a um significativo silêncio».
Antes, Carlos Carvalhas debruçou-se sobre os problemas da região sublinhando que «o Alentejo precisa de menos propaganda e mais medidas concretas. Não precisa de propaganda tipo "Pró-Alentejo" sem conteúdo, sem verbas definidas. Precisa sim que se dê resposta aos problemas do uso e posse da terra, da industrialização, da desertificação e do envelhecimento desta região que tem imensas potencialidades».
Sobre a situação económica e social, o secretário-geral do PCP considerou que o facto de Portugal estar no pelotão da frente na corrida para a Moeda Única não é significativo uma vez que «estamos na cauda da Europa em relação ao desenvolvimento, temos os maiores índices de pobreza, os mais baixos salários e reformas e somos o país onde nos últimos anos mais se têm acentuado as desigualdades: 20 por cento dos mais pobres detêm seis por cento do rendimento nacional e dez por cento dos mais ricos detêm 47 por cento». A estes dados, o dirigente comunista acrescentou o desemprego de longa duração e os elevados índices de trabalho precário, sublinhando que o crescimento económico verificado deve traduzir-se na melhoria das condições de vida do povo.
O secretário-geral referiu-se ainda às questões do Partido chamando a atenção para a necessidade de «dar um novo impulso na vida das organizações e para se continuar a processar sem delongas a renovação e o rejuvenescimento».


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97