Opções erradas põem futuro em risco
PCP leva situação da TAP ao Parlamento


O Grupo Parlamentar do PCP criticou as opções que têm sido adoptadas pelo Governo relativamente à TAP, designadamente no plano dos acordos estabelecidos com outras empresas, considerando-as "descuidadas" e fortemente lesivas dos interesses da transportadora aérea nacional.

Existem mesmo sérios perigos espreitando a TAP, no entender do deputado comunista João Amaral, que muito recentemente levou o assunto a plenário, pondo em evidência os desnecessários "riscos e sujeições" que pesam sobre a empresa em resultado do "desnorte de administrações políticas sem verdadeiro sentido de gestão".

Numa intervenção proferida no período antes da ordem do dia, na sequência da visita à TAP de uma delegação do PCP presidida por Carlos Carvalhas, João Amaral falou das "preocupações" existentes entre os trabalhadores e dos "grandes riscos" que se perfilam no horizonte.
A privatização da TAP, o futuro do sector de handling,, o regime de transporte para as regiões autónomas, as negociatas com outras transportadoras portuguesas, os regimes de trabalho (em especial a questão dos tempos de trabalho) e o já referido acordo com o grupo da Swissar, concorrem para esse clima de apreensão geral.
Na origem da situação presente, segundo o parlamentar comunista, está o facto de a TAP ao invés de assegurar acordos "justos e mutuamente vantajosos" com outras companhias, hoje necessários para "garantir o seu futuro e poder progredir", continuar a ser usada pelos governos "como palco de jogos de poder partidário e para promoção de interesses totalmente alheios aos interesses do País".
E talvez o melhor testemunho desta realidade sejam mesmo os termos do acordo com a Swissar, um acordo "feito à pressa e à socapa", na perspectiva da bancada comunista,
à margem de tudo e de todos, que deu de mão beijada "todas as vantagens" à companhia helvética.

"Nada justifica esta precipitação", sublinhou o parlamentar do PCP, antes de afirmar que "o futuro da TAP não é um negócio privado do PS". Tanto mais que, frisou, a "TAP não estava com a corda na garganta" - ainda há pouco tempo recebeu 180 milhões de contos dos fundos públicos - , e são evidentes os múltiplos inconvenientes da operação.
Desde logo pela circunstância de a TAP ficar na dependência tecnológica da Swissar no estratégico sector das reservas, entregando-lhe a sua gestão, bem como no plano da fidelização de passageiros e de outras actividadedes do sector comercial.
"É absolutamente desastroso do ponto de vista do interesse da TAP em conservar a sua própria autonomia", concluiu João Amaral, não sem antes ter contestado o argumento segundo o qual adviriam vantagens da entrega à Swissar de uma fatia de dez por cento da empresa no quadro da sua privatização.
"Dizem que assim o grupo Swissar fica amarrado à TAP. A realidade é inversa: assim é a TAP que fica amarrada à Swissar e dela dependente", sublinhou o deputado comunista, que repudiou simultaneamente os acordos parcelares que estão a ser celebrdos em diferentes áreas de actividade, por entender, explicou, que "não obedecem a nenhuma estratégia da TAP" e servirem, no fundamental, a "estratégia e o interesse da Swissar".

Na sua intervenção, João Amaral enumerou ainda as razões pelas quais o PCP defende a "continuidade e dinamização aérea" da TAP como "companhia de bandeira, controlada nacionalmente", pondo em relevo o seu "valor como «reserva estratégica»" capaz de assegurar a Portugal em todas as condições "um determinado nível de capacidade própria de transporte", o seu papel na ligação à Comunidade de Países de Língua Portuguesa e às comunidades emigrantes, bem como às regiões autónomas, sem esquecer os níveis de emprego que assegura e, por último, o volume de divisas que permite captar.


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97