Estuário e sapal do Lima

"Verdes" denunciam crime ecológico


"Um crime ecológico de grande envergadura" poderá afectar o estuário do Rio Lima e do seu sapal, caso o projecto de alargamento das actuais instalações do porto comercial vá para a frente.

O alerta partiu do Partido Ecologista "Os Verdes" que realizou no passado dia 27 uma noite de vigília em frente ao Ministério do Equipamento em protesto contra aquela decisão que, em sua opinião, a concretizar-se, levará "não só, no imediato, à destruição dum valiosíssimo património natural", como poderá ainda, "no futuro, ter impactes negativos difíceis de prever e controlar sobre o ambiente e para a segurança das populações ribeirinhas".

Em comunicado chegado à nossa redacção, intitulado "SOS estuário do Lima", Os "Verdes" afirmam estar-se perante "mais uma aberração no ordenamento do território na Orla Costeira e nas zonas ribeirinhas", expressando simultaneamente a sua convicção de que se trata de "mais um crime ecológico" com repercussões não só ambientais mas também de ordem social e cultural para a região.
Por si lembrado é, designadamente, o facto de os estuários desempenharem "um papel fundamental na relação hidrodinâmica entre os mares e os rios", pelo que, fazem notar, "qualquer alteração na sua morfologia terá implicações na qualidade das águas (salinização das águas doces, por exemplo), nas zonas ribeirinhas, como ainda sobre a orla costeira".

Neste contexto - onde avulta simultaneamente o papel dos sapais enquanto factor, por um lado, de biodiversidade e conservação das espécies, e, por outro, de «descontaminação natural» das águas e dos ecossistemas estuarinos" -, só "poderosos e obscuros interesses" podem explicar a intenção de levar por diante aquele projecto, tentando justificá-lo com argumentos que, do ponto de vista de "Os Verdes", caem pela raíz.

Com efeito, na perspectiva do Partido Ecologista, nada justifica a ampliação das instalações do Porto de Viana do Castelo, porquanto, assinalam, as actuais "não chegam a ter um navio por dia atracado", havendo equipamento que só apresenta três horas de trabalho/ano, segundo relatório oficial da Junta Autónoma dos Portos.

Assim sendo, "que razões reais estão por trás desta obsessão em persistir num projecto cujos impactes negativos são gritantes e os benefícios mais que duvidosos", perguntam "Os Verdes", que reiteram a sua determinação em fazer "ouvir a sua voz" contra os que "só defendem o cimento como pilar de progresso", esquecendo que "aquele património natural é só por si um factor de desenvolvimento e de riqueza para a região".


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97