Alemanha
Gerhard Schroeder
na corrida para Bona


O ministro-presidente da Baixa Saxónia, Gerhard Schroeder, reeleito no passado domingo com 48 por cento dos votos, vai disputar a Helmut Kohl o lugar de chanceler nas próximas eleições gerais de Setembro na Alemanha. Já conhecido como o «Tony Blair alemão», Schroeder terá ainda que conquistar o apoio da esquerda do SPD (partido social democrata), pouco satisfeita com as suas cada vez mais notórias cedências ao eleitorado de direita.

As eleições de domingo na Baixa Saxónia só formalmente foram regionais. Em termos políticos, todos os partidos as consideraram como o primeiro grande teste para as eleições gerais de Setembro, o que equivale a dizer um teste à possibilidade de Helmut Kohl cometer a proeza de se fazer eleger para um quinto mandato.
Numa altura em que os problemas do emprego, ou melhor dizendo da falta dele, suscitam severas críticas à política económica e social da coligação liderada por Kohl, a derrota da CDU (democrastas cristãos) no domingo presta-se a diferentes leituras.
Na Baixa Saxónia, o SPD ultrapassou as suas próprias expectativas, conquistando 48 por cento dos votos (contra os 44,3 por cento obtidos em 1994). A CDU, por seu lado, fica-se pelos 36 por cento (contra os 36,4 por cento alcançados em 1994). Em termos de lugares, o SPD conquista mais dois lugares, passando a dispor de 83 deputados, enquanto a CDU perde cinco lugares, ficando apenas com 62 deputados. Quanto aos Verdes, com sete por cento dos votos (contra 7,4 por cento em 1994), perdem um deputado e ficam com 12 lugares.

As reacções aos resultados não se fizeram esperar, revelando que nem tudo é pacífico na corrida de 27 de Setembro à chancelaria de Bona. Enquanto o sectrário-geral da CDU, Peter Hintze, e o ministro do Trabalho, Norbert Bluer, vinham a público reafirmar o seu apoio à recandidatura de Kohl, o ex-secretário-geral do partido, Heiner Geissler, aconselhava o chanceler a «reflectir consigo mesmo» sobre os resultados na Baixa Saxónia.
Geissler exigiu ainda que na próxima campanha eleitoral a CDU se demarque mais claramente do seu actual parceiro de coligação em Bona, os liberais do FDP. «A CDU tem de tornar claro que a economia social de mercado não pode ser substituida pelo turbo-capitalismo do FDP. De contrário, corremos o risco de deixarmos de ser um partido do povo», advertiu Geissler.


Campanha eleitoral
já começou

A verdade é que os conservadores não esperaram pela campanha para abrir as hostilidades contra Schroeder. Falando em Munique, no início da semana, Theo Waigel, ministro das Finanças, afirmou que o desemprego na Baixa-Saxónia ronda os 20 por cento, quase mais oito por cento do que a média a nível nacional, e que a segunda maior região alemã, que o candidato social-democrata governa desde 1990, tem uma produtividade 10 por cento inferior aos outros «laender» da parte ocidental, e um maior endividamento per-capita também.
Por seu turno, presidente do FDP, Wolfgang Gerhardt, anunciou que ía endurecer a sua luta contra o candidato da oposição, acusando Schroeder de ter desencadeado uma grande agitação mediática, «enquanto recusava tomar posições claras sobre os seus objectivos políticos».

Entretanto, as grandes associações patronais alemãs apressaram-se a pedir a Schroeder que dê pormenores concretos sobre a política que pretende levar a cabo, nomeadamente no que se refere à reforma fiscal, ao progresso tecnológico e a modernização da política económica.

Por seu lado, Kohl exortou Schroeder a definir-se, e a tomar «posições claras» sobre questões concretas, acrescentando que não irá aceitar a estratégia do SPD de «tentar despolitizar» as eleições para o Parlamento federal (Bundestag).
Segundo a Lusa, o chanceler admitiu que o actual governo não conseguiu convencer os alemães da necessidade de efectuar reformas, «e por isso a grande reforma fiscal voltará a ser um dos temas centrais da campanha eleitoral», anunciou.
Considerando os resultados da CDU na Baixa Saxónia «muito decepcionantes», Kohl reconheceu que o seu partido não conseguiu fomentar a discussão sobre a actual situação do país, mas atribuiu a «culpa» ao SPD, que «transformou eleições regionais num escrutínio ao seu candidato a chanceler».

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O Tony Blair alemão

O SPD não perdeu tempo a rentabilizar a vitória na Baixa Saxónia. O anúncio oficial de que Schroeder será o opositor de Kohl nas eleições de Setembro foi feito no domingo à noite, antecipando-se à reunião marcada pela direcção do partido para 16 de Março. Entre a chamada 'ala esquerda' do SPD não falta quem considere que tudo não passou de uma encenação há muito programada. A vitória de domingo teria assim precipitado uma tomada de decisão, permitindo a Schroeder impor-se ao partido contra Oskar Lafontaine, o líder do SPD, que apesar de granjear muita simpatia não é visto como um rival capaz de derrotar Kohl.

Falando em conferência de imprensa, Schroeder deu a tónica, ao salientar o que considera ser o duplo ensinamento das eleições de domingo: a vontade dos eleitores da Baixa Saxónia de plebescitar a estabilidade e a continuidade das suas orientações regionais, e a mensagem de que «a era de Kohl chegou ao fim».

Mas a «nova era» que se anuncia está longe de ser pacífica. No SPD não falta quem considere Gerhard Schroeder como um homem capaz de tudo para chegar ao poder, inclusive de procurar apoios fora do partido para se impor como candidato. Para a ala esquerda do SPD, desde numerosos sindicalistas a conceituados intelectuais, Schroeder advoga teses neoliberais que em nada inquietam o patronato e os mercados financeiros.

Não é certamente por acaso que lhe chamam o «Tony Blair alemão», o que de resto nem sequer lhe desagrada. Ora sucede que, sendo este o maior trunfo de Schroeder, é também o seu calcanhar de Aquiles. Helmut Kohl, no poder há quase 16 anos, considera que só teria a recear um candidato com uma verdadeira política alternativa, e isso é um risco que aparentemente não corre com Schroeder.


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97