Iraque
depois do acordo


O Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade o acordo assinado no passado dia 23 entre Kofi Annan e as autoridades de Bagdad, sublinhando que «qualquer violação terá consequências graves para o Iraque». Numa nota transmitida na noite de segunda-feira, os membros daquele orgão alertam ainda os Estados Unidos que devem proceder sempre de acordo com as suas indicações.

Os peritos da Unscom - a comissão das Nações Unidas para o desarmamento - já reiniciaram as inspecções às instalações presidenciais do Iraque. «Sem entraves e com cooperação», de acordo com as autoridades de Bagdad, 14 palácios foram já vistoriados por 15 equipas, alguns de surpresa.
Realizou-se também uma reunião entre elementos da ONU e responsáveis iraquianos sobre armas químicas.

Entretanto, a Turquia e a Jordânia acordaram numa iniciativa conjunta para a reintegração do Iraque na comunidade regional, que consiste num conjunto de quatro propostas já aceites por Saddam Hussein.
Este acordo tem como objectivo permitir a Bagdad preservar a sua soberânia e integridade territorial, obter o levantamento das sanções, criar uma zona no Médio-Oriente livre de armas de destruição maciça e organizar uma cooperação económica e de segurança entre o Iraque e os seus vizinhos.

Os iraquianos começam a receber ajuda internacional, provavelmente fruto da divulgação pela comunicação social de todo o mundo das condições de vida miseráveis com que a população se debate diariamente.
No domingo, 180 toneladas de alimentos e 40 toneladas de roupas e cobertores foram entregues em Bagdad pelo Crescente Vermelho dos Emirados Árabes Unidos. Na opinião do seu presidente, Said Mohammad al-Mansouri, esta ajuda é prova da «solidariedade com o povo iraquiano contra o embargo». Este foi o terceiro carregamento de produtos humanitários enviado pelos Emirados em menos de duas semanas.
Também o Egipto enviou 40 toneladas de medicamentos e alimentos para crianças, através de uma delegação de parlamentares, sindicalistas, actores e jornalistas. Na sua maioria, os produtos foram oferecidos por empresas e empresários.


Posição de organizações portuguesas

Diversas organizações portuguesas reunidas numa plataforma pela resolução da crise iraquiana de uma forma pacífica consideram, em comunicado, que o acordo alcançado pelas Nações Unidas «afasta no imediato o perigo de uma guerra devastadora para o povo iraquiano e destabilizadora do frágil equilíbrio da zona».

Os signatários da declaração - entre os quais a DORL do PCP, o Concelho Português para a Paz e Cooperação, a JCP, a CGTP, o PSR e a Frente Anti-Racista - defendem que «os presentes acontecimentos vieram reforçar as evidência da necessidade e das capacidades de um amplo movimento a favor da paz e das soluções políticas e negociadas nas relações internacionais, movimento que urge desenvolver e aprofundar».

As organizações sublinham que «o acordo só foi possível pelo empenhamento do secretário-geral da ONU, de numerosos países, de organizações não-governamentais, de personalidades e por um vasto movimento da opinião pública mundial».
Este conjunto de organizações anunciou que irá promover e apoiar iniciativas de informação sobre este tema, nomeadamente em escolas e universidades.


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97