À frente, Senhor Director, à frente!
Chama-se Mário Leston Bandeira e responde pelo cargo de Director de Comunicação da Portugal Telecom. Tudo indica que tal cargo lhe foi atribuído por elevados méritos comunicacionais, por reconhecida e confirmada especialização e perícia na arte de bem comunicar. Aliás, a capacidade de comunicação do Senhor Director da dita ficou bem expressa um dia destes quando, face aos protestos de milhares de pessoas contra o aumento dos telefones, Sua Excelência achou por bem «comunicar-nos» que os membros da Comissão de Utentes Contra a Taxa de Activação e os Aumentos nos Telefones eram comunistas! E - pior e mais grave do que isso - que, por detrás de todas estas movimentações e protestos estava nem mais nem menos do que o PCP!
A espectacular revelação empurra-nos, desde logo,
para uma série de perguntas com resposta incluída, tais como: para o Director de
Comunicação da PT, o facto de alguns ou todos os membros da Comissão de Utentes serem,
eventualmente, militantes comunistas confere algum conteúdo diabólico e condenável ao
protesto contra o aumento nos telefones? Ou: tal facto reduziria a razão e a justeza do
protesto? Ou: para o Director de Comunicação um protesto é aceitável ou inaceitável
conforme a filiação partidária de quem protesta? Ou: a circunstância de um protesto
ser encabeçado por militantes do PCP retira-lhe toda a justeza que adquire se forem
militantes do PS ou do PSD a promovê-lo" Ou: o Director está com saudades do
antigamente?... É que a revelação que nos faz traz-nos à memória, pela forma e pelo
conteúdo, as «notas oficiosas» do Governo fascista distribuídas pelo SNI - coisa que
não é de somenos nestes tempos de pides entrevistados, de pides condecorados, de pides
recauchutados.
Resta-me deixar três breves observações à «comunicação»
do Senhor Director: a primeira é que, apesar de tudo e por muito que custe a Sua
Excelência, o fascismo foi derrotado pela Revolução de Abril. A segunda é que - hoje,
como ontem, como amanhã o PCP não pede autorização a ninguém para cumprir o
seu papel de partido que existe para defender os interesses dos trabalhadores, do povo e
do País. E, a verdade é que de há muito o PCP vem alertando e prevenindo a população
para os aumentos que acabaram por se concretizar no início de 1998. Antes das
autárquicas, o Secretário-Geral do PCP desafiou repetidas vezes o primeiro-ministro a
dizer se sim ou não se preparava para, depois das eleições, aumentar os transportes, os
passes sociais, a electricidade, o gás, as portagens, os correios, os telefones... O
silêncio do primeiro-ministro foi eloquentíssimo: de facto, os aumentos já estavam
decididos. De facto, o PCP tem vindo a bater-se intensamente contra esses aumentos,
nomeadamente contra o aumento dos telefones.
Terceira e última
observação: tendo em conta o que acima é dito, constitui, no mínimo, monumental
patetice vir dizer que o PCP está por detrás da actual vaga de protestos. Por detrás?
À frente, Senhor Director, à frente! José Casanova