ALERTA
contra o AMI


Já em 12 de Dezembro último Renato Ruggero, Director Geral da OMC, celebrou como "momento histórico" o acordo então alcançado, sob a poderosa pressão dos EUA, reduzindo as "barreiras à concorrência" nos sectores bancário, seguros e imobiliário. "Dia negro para a economia mundial e para a democracia" , assim justamente o classificou Ricardo Petrella, conhecido professor de economia da Universidade (católica) de Lovaina e presidente do chamado "Grupo de Lisboa" (Liberazione, 14/12/97). Foi mais um grave passo, seguindo-se a outros (telecomunicações, tecnologias da informação), desbravando caminho para o Acordo Multilateral sobre Investimentos - AMI, a ser negociado desde 1995 no quadro da OCDE, a organização dos 29 países mais industrializados, para depois ser imposto urbi et orbi. Tudo na ignorância das opiniões públicas e até da maioria dos governantes e dos parlamentares eleitos pelos respectivos povos. Pela calada nos querem tramar, tramando tal "acordo" entre si.


A
té há pouco tudo era top secret, acessível apenas aos selectos agentes credenciados, lobbies das grandes transnacionais, grupos financeiros e peritos hiperliberalistas da OCDE. As dificuldades que atrasaram a conclusão do processo, prevista para meados de 97 e agora marcada para fins de Abril próximo (mas há mais de 1000 emendas a discutir ainda...), decorreram no fundamental das rivalidades entre grandes Estados e entre grandes transnacionais, rivalidades a que não escapam os deuses desse Olimpo, porque o "bolo" de cifrões a dividir é portentoso. O Secretário Geral da OCDE, Donald Johnston, sublinha-lhe a importância: "O investimento directo estrangeiro, que ascendeu a 259 mil milhões de dólares em 1996, é um elemento crucial no processo de mundialização, que gera prosperidade, crescimento e emprego". (sic!). A enormidade da banha de cobra publicitária final (falsificando frontalmente a realidade das consequências do avanço brutal da desregulamentação financeira e mundialização do capital, nesta era de hiperliberalismo que dura já há 2 décadas), não diminui o tamanho do "bolo". E aquela verba é de um só ano, porque o montante acumulado e em acção ronda já os 8 biliões e 300 mil milhões de dólares. É para esses e outros capitais que o AMI quer agora todas as liberdades, direitos e garantias - à custa da soberania dos países e dos interesses dos povos, à sua revelia, e sob pena de sanções! É pois com inteira razão que a federação sindical americana AFL-CIO chama ao AMI a Bill of Rights for Multinational Corporations, e que Bernard Cassen o define como Declaração dos Direitos Universais do Capital.


J
á no ano passado, uma associação de defesa dos consumidores americana lançou o alerta. Contra o AMI, 600 ONG's subscrevem um apelo (ver na Internet http://www.citizen.org/ ): "Como coligação de grupos pelo desenvolvimento dos direitos do homem, pela defesa do ambiente, dos consumidores e dos trabalhadores, presentes em mais de setenta países, consideramos que o projecto de acordo multilateral sobre o investimento (AMI) é inaceitável". Por todo o mundo a denúncia ecoa, a resistência se organiza, a opinião pública é informada, as organizações dos trabalhadores se mobilizam. No Terceiro Mundo, a Índia e 15 países pobres protestam. Em França, intelectuais, artistas, sindicalistas, exigem que parlamentares e governo recusem o acordo. O mesmo em Itália e noutros países da Europa. Também em Portugal há que lançar o ALERTA para que seja denunciado o que já se pode saber desse texto tenebroso ( http://www.monde-diplomatique.fr/. ). E o Grupo Parlamentar do PCP já requereu um debate na A.R. sobre o assunto.


P
or todo o mundo, organizações sindicais e de trabalhadores, associações de PME's, de agricultores, de consumidores, de artistas e homens da cultura, de ambientalistas, economistas sérios e juristas progressistas, etc., e também autarcas e parlamentares comprometidos com a justiça e o progresso social, a soberania nacional e os interesses dos povos que representam, estão-se congregando para impedir esta tentativa de impôr a Lei da Selva de um Capital que se quer omnipotente a todos os povos e à civilização humana. Juntemos à sua a nossa voz. — Carlos Aboim Inglez


«Avante!» Nº 1266 - 5.Março.97