EDITORIAL
Cá estamos


O Pavilhão Carlos Lopes foi, mais uma vez, ponto de encontro de milhares de militantes e simpatizantes comunistas que ali comemoraram o 77º. Aniversário do PCP.

Diga-se desde já que, mais uma vez também, a generalidade dos órgãos da comunicação social dominante cumpriu o seu papel: nuns casos deram ao Comício – Festa do PCP meia dúzia ou algumas dúzias de linhas depreciativas com fotografias ou imagens a condizer; noutros casos primaram, pura e simplesmente, pelo silenciamente total – atitudes que lhes permitem, especialmente a estes últimos, continuar a dizer que o PCP não existe, morreu, acabou. Acontece que a realidade, incontornável, desmente-os todos os dias. E assim aconteceu no Comício do passado Sábado .

O Pavilhão estava cheio: de confiança, de entusiasmo, de determinação, de homens, mulheres e jovens conscientes de que o PCP, cumprindo o seu papel, assumindo plenamente as suas responsabilidades e o seu compromisso com a classe operária, com os trabalhadores, com o povo, com o país, "não baixará os braços" nem descansará no estímulo e no apoio às lutas dos trabalhadores em geral, dos jovens, das mulheres, dos agricultores, dos reformados e pensionistas, dos deficientes; "não baixará os braços" nem calará a sua voz na denúncia e no combate à política de direita levada a cabo pelo Governo do PS, na denúncia e no combate "ao leilão das empresas públicas, ao desemprego, ao trabalho sem direitos e aos baixos salários"; "não baixará os braços" nem calará a sua voz no combate, na denúncia e no alerta ao povo português sobre as consequências futuras da adopção do Euro: "novos sacrifícios, despedimentos, liquidação de direitos e diminuição de salários", para além de constituir nova e violenta machadada na soberania nacional.


O Pavilhão Carlos Lopes estava cheio de homens, mulheres e jovens, conscientes da situação que vivemos, conscientes do "quadro contraditório de dificuldades e perigos para os trabalhadores e os seus direitos e para outros sectores e camadas mais desfavorecidas", conscientes dos obstáculos, das dificuldades, dos perigos que hoje se colocam a todos os que ousam bater-se pelos seus direitos e, por isso mesmo, conscientes "das possibilidades e potencialidades (…) de desenvolvimento da acção, do protesto e da luta" – como sublinhou Carlos Carvalhas, Secretário Geral do PCP, na intervenção que produziu.


Por isso, mais do que o eco das lutas em desenvolvimento por todo o país, foram as próprias lutas que ali estiveram, representadas pelos milhares de militantes de um Partido com o qual os trabalhadores portugueses sabem que podem contar em todos os momentos e em todas as situações, hoje como ontem como amanhã. Por isso, ali se comemorou condignamente "a conquista das 40 horas com descanso ao Sábado e da pausa de meia hora" obtida após 15 meses de luta difícil, tenaz, persistente, corajosa e estilhaçando "o compromisso férreo que existia entre o grande capital da têxtil e o governo". Por isso, ali se valorizou adequadamente a importância e o significado das lutas nos Cabos Ávila, na Carris e nos Rodoviários, na Gás de Portugal, na Indelma, na Ford Electrónica, na Administração Pública, na Banca, no Sector Ferroviário, na ex-Renault – Sodia, na Construção Civil. Por isso: porque eram lutadores a comemorar as suas lutas e a manifestar a sua disposição de as continuar, de as intensificar, de lhes dar mais força e maior amplitude e sabendo que o fazem num quadro de enormes dificuldades, pressões, repressões e chantagens mas sabendo também que, mesmo assim e por isso mesmo, é preciso lutar e vale a pena lutar. E sabendo igualmente que o êxito desse seu objectivo será tanto mais possível quanto mais forte for o Partido, quanto maior for a sua capacidade de intervenção, quanto mais estreita e sólida for a sua ligação às massas. Porque é aí que nascem as fontes essenciais da força do Partido e a possibilidade de ele reforçar a sua expressão social, eleitoral e política. Porque é aí, igualmente, que nascem, se desenvolvem e crescem as possibilidades de dar resposta positiva a todos os portugueses e portuguesas que aspiram a uma mudança de política, a todos os portugueses e portuguesas que lutam contra a política de direita e por uma alternativa progressista e de esquerda à actual situação.

Porque é aí, ainda, que se situa a linha essencial de defesa da democracia e dos valores nascidos da Revolução de Abril e permanentemente postos em causa e ameaçados pela política de direita – seja ela executada pelo PSD ou pelo PS.


É nesta perspectiva que – como acentuou Carlos Carvalhas – "se enquadra o vasto movimento em curso de reflexão e de debate, de tomada de decisões e de adopção de medidas" visando dar um novo impulso na organização, na intervenção e na afirmação política do Partido.

Nesse sentido, as Comemorações do 77º. Aniversário do PCP confirmam as reais possibilidades de alcançarmos o objectivo definido. Com efeito, a confiança, o entusiasmo, a determinação com que milhares e milhares de homens, mulheres e jovens comunistas comemoraram, por todo o País, o 77º. Aniversário do Partido, constitui a mais sólida garantia, a mais firme certeza de que, no futuro, como afirmou o Secretário Geral do PCP, Carlos Carvalhas, "continuaremos, como ao longo destes 77 anos, a levantar as bandeiras do progresso social, da Paz, do fim da exploração e da opressão do homem pelo homem".

Partindo da força que temos – e que é muita – sabendo utilizá-la e potenciá-la, dinamizando o funcionamento e a actividade das organizações, chamando novos quadros – nomeadamente quadros jovens – a maiores responsabilidades, reforçando a militância e o número de militantes, elevando a capacidade de direcção dos vários organismos, reforçando o conteúdo colectivo do funcionamento do partido, redobrando a atenção e a procura de respostas para os problemas dos trabalhadores e das populações, enriquecendo sempre o ambiente de camaradagem e de fraternidade – é possível dar mais força à força deste Partido que é o nosso.

«Avante!» Nº 1267 - 12.Março.1998