Militares israelitas querem
paz com os árabes


Cerca de 1.600 oficiais do exército e da polícia israelita enviaram uma carta ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pedindo-lhe que respeite os acordos de Oslo e que faça a paz com os países árabes. Entre os subscritores contam-se 216 coronéis e 11 generais, que assim reeditam uma iniciativa tomada há 20 anos por 348 oficiais do exército, de que resultou a formação do movimento Paz Agora, a mais importante organização pacifista de Israel.

A carta, divulgada domingo na principal imprensa israelita, é um alerta contra os sérios perigos que ameaçam o processo de paz no Médio Oriente, considerando os seus subscritores que «esta possibilidade histórica corre o risco de escoar-se entre os nossos dedos e de desembocar numa guerra ou noutra Intifada palestina, se o Governo de Israel não prosseguir o processo de paz estabelecido nos acordos palestino-israelita de Oslo e não levar a cabo a retirada militar da Cisjordânia».

«Não nos dirigimos a ti de ânimo leve, mas nos dias que correm, em que as oportunidades de paz se oferecem a Israel, cremos ser nossa obrigação perdir-te que evites processos que podem ser uma catástrofe para as futuras gerações», afirmam os militares na mensagem a Netanyahu, muito oportunamente vinda a público pouco antes do primeiro-ministro israelita se encontrar em Londres com o seu homólogo Tony Blair, que assegura neste semestre a presidência rotativa da União Europeia.

Esta visita inscreve-se no quadro de uma digressão europeia destinada a melhorar a imagem de Israel e a contrariar as pressões que a União Europeia planeia exercer para incitar o Estado hebreu a proceder a uma retirada militar consequente da Cisjordânia. Netanyahu iniciou a sua digressão por Espanha, seguindo depois para Bona, onde se encontrou com Helmut Kohl. A escala seguinte levou-o a Oslo, Noruega, justamente o país que organizou os encontros secretos entre responsáveis israelitas e palestinianos que levaram à assinatura dos acordos de paz de 1993.

Perda de tempo

O périplo europeu de Netanyahu destinou-se ainda a apresentar a sua nova proposta de paz entre Israel e a Autoridade Palestiniana, que inclui, entre outras coisas, a possibilidade de negociações directas e pessoais com Yasser Arafat.

A proposta israelita aponta para uma negociação em quatro fases - destinadas a resolver problemas como o funcionamento do aeroporto de Gaza, a criação de uma zona industrial partilhada por Israel e pela Palestina, a retirada israelita da Cisjordânia, e a abertura de negociações sobre temas económicos, a gestão da água e o problema dos refugiados - após o que seriam tratadas as questões mais delicadas, designadamente o estatuto final da autoridade palestiniana, a situação dos colonatos judeus, o problema das fronteiras e o estatuto de Jerusalém.

De acordo com notícias vindas a público, os palestinianos não parecem particularmente entusiasmados com estas propostas, tendo já afirmado que não participarão em nenhuma cimeira com Netanyahu, considerando que se trata de uma «miserável perda de tempo», como afirmou o ministro palestiniano da Cooperação, Nabil Chaat.

Arafat propõe cimeira árabe

Entretanto, o presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, apelou no domingo para a realização de uma cimeira árabe no sentido de salvar o processo de paz no Médio-Oriente, que, sublinhou, «agoniza» por causa da política intransigente do governo israelita.

«Apelo para a realização de uma cimeira árabe urgente, para discutir a posição dos países árabes» relativamente ao processo de paz, que desde há um ano está num impasse, afirmou Arafat perante o Conselho Legislativo Palestiniano, em Gaza.

«Não estarei a revelar um segredo se disser que atravessamos uma situação perigosa e que o processo de paz agoniza», disse Arafat, que acusa «os adiamentos intencionais do governo israelita» de estar na origem da crise no processo de paz.

O presidente palestiniano advoga que os países árabes devem definir a sua posição relativamente ao direito dos palestinianos à autodeterminação e ao regresso dos refugiados e dos prisioneiros feitos por Israel.

«Avante!» Nº 1267 - 12.Março.1998