Debate em Setubal
«Manifesto
não é um dogma»
A atitude crítica em relação aos seus próprios textos prova como Marx e Engels não entendiam os seus escritos como um dogma, assinalou Manuel Gusmão, professor universitário e membro do Comité Central do PCP, no debate que a DORS promoveu na passada sexta-feira, na Capricho Setubalense, na capital sadina, para comemorar os 150 anos daquela obra percursora.
Manuel Gusmão apoiou-se nos
prefácios das reedições de 1872 (alemã) e de 1882 (russa), em
que os autores, mesmo considerando o Manifesto como «um
documento histórico» que eles não tinham «o direito de
modificar», defenderam que a «aplicação prática» dos seus
«princípios gerais (...) dependem em qualquer lugar e sempre
das condições históricas do momento». A título de exemplo, a
evolução e posicionamento tanto dos Estados Unidos como da
Rússia, não citados no contexto do último capítulo da obra,
no espaço de menos de 40 anos (a primeira edição data de
1848), conduziram Marx e Engels a projectar para estes dois
países um protagonismo antes insuspeito e a admitir a
razoabilidade da revisão do texto num ou noutro aspecto -
«melhorando tal ou tal fórmula».
A sessão, que reuniu mais de 150 pessoas, teve como tema «A
validade do Marxismo no final do Milénio» e propiciou um rico
debate entre os presentes.
Questões diversas com a absorção de ideias ou princípios
marxistas na comunidade filosófica ou científica mesmo entre
aqueles que não se reclamam do marxismo ou ainda o exercício do
poder e os seus efeitos perversos, foram objecto de tratamento
por parte de Manuel Gusmão. Recordando que o XIII Congresso do
PCP definiu o marxismo-leninismo como «um sistema aberto a
teorias», identificou como causas que provocaram o
desmoronamento do sistema socialista a estagnação da teoria
marxista, reduzida muitas vezes à substituição da análise
pela citação e a total fusão do Partido no Poder, entre
outras.
Valdemar Santos, da DORS e do
CC do PCP, que dirigiu o debate, recordou a última palestra de
Manuel Gusmão em Setúbal, em 1996, subordinada ao tema «Será
o capitalismo o fim da história». Realizada em 9 de Maio, na
ante-véspera do grande comício internacionalista de Paris, em
que o PCP esteve representado, «não foi preciso esperar um
ano» - disse - «para que um PDG (presidente de
direcção-geral) francês se dirigisse a Vilvorde, na Bélgica,
e em conferência de imprensa decretasse o encerramento da
fábrica Renault e o despedimento de seis mil trabalhadores,
tendo-se virado em seguida para o seu assessor para lhe perguntar
quanto tempo faltava para o próximo comboio de regresso a
Paris». A mesma frieza está patente na actual situação da
Sodia, ex-Renault em Setúbal, cujo encerramento eminente irá
provocar o despedimento de 600 trabalhadores.
Reafirmando a solidariedade do PCP com a luta nesta empresa,
Valdemar Santos criticou o grupo parlamentar do Partido
Socialista por ser «praticamente o único que não aceitou
receber a Comissão de Trabalhadores».
A sessão foi ainda aproveitada para saudar a eleição de Barata-Moura, militante do PCP, para o cargo de Reitor da Universidade Clássica Lisboa.
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Conferências
sobre a Moeda Única
Na passada terça-feira, dia de fecho desta edição, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, esteve na cidade da Covilhã onde de manhã visitou a Universidade da Beira Interior, proferindo à tarde, uma intervenção sobre a problemática da adesão de Portugal à Moeda Única.
Esta iniciativa partiu do
núcleo de Estudantes de Gestão da Universidade da Beira
Interior (Ubigest) e integrou-se num ciclo de conferências
intitulado «Gerir o Mundo» a decorrer durante os meses de
Março, Abril e Maio.
Quinta-feira da passada semana, o secretário-geral do PCP esteve
igualmente no Auditório da Universidade Portucalense, no Porto,
onde participou num conferência subordinada ao tema «A Europa e
a Moeda Única».