Eleições regionais em França
Um aplauso à Esquerda


A coligação «Esquerda Plural» - composta por comunistas, socialistas e «Os Verdes» - ganhou as eleições regionais francesas, realizadas no domingo, um facto que revela que os eleitores estão satisfeitos com as opções políticas do Governo liderado por Lionel Jospin.

A aliança formada pelo Partido Comunista Francês, pelo Partido Socialista e pel'«Os Verdes» recebeu mais de 35 por cento dos votos das eleições, enquanto a coligação de direita ficou com 30 por cento. Isto significa na prática que, das 22 regiões metropolitanas, a esquerda conseguiu a maioria em 15 e os conservadores do RPR e do UDF perderam a maior parte dos 20 Conselhos Gerais que dispunham.
Segundo os dados avançados, a «Esquerda Plural» tem maioria relativa em Aquitaine, Languedoc-Roussillon, Limousin, Picardie e Nord-Pas-de-Calai, e a direita na Alsácia, Baixa Nordandia e no País do Loire.
Os resultados da Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen - que ultrapassam os 15 por cento a nível nacional - podem ser usados pela direita para conseguir manter nas suas mãos algumas presidências. Estas possíveis (e prováveis) alianças serão negociadas com base em alteração de programas eleitorais ou com a cedência de vice-presidências.
O ministro do Interior, Jean Pierre Chevènemet, advertiu que «toda a tentativa de estabelecer alianças contra natura com a extrema-direita será condenada pela opinião pública e por todos os democratas».
De registar a alta taxa de abstenção verificada no escrutínio, que se fixou nos 42 por cento, número consideravelmente superior aos 31 por cento de 1992. Estes valores não são totalmente surpreendentes, se tomarmos em consideração a fraca adesão da população durante a campanha eleitoral.

Um novo não à direita

Nove meses após as eleições legislativas que elegeram o governo composto por socialistas, comunistas e ecologistas, este escrutínio vem reforçar a posição do eleitorado francês no seu apoio às políticas da equipa do primeiro-ministro Lionel Jospin.
Essa é de resto a ideia que prevalece em todos os quadrantes do meio político francês.
O secretário nacional do PCF, Robert Hue, afirmou que estes valores «prolongam os resultados de Junho de 1997». «A direita, a política ultraliberal recebeu um novo não. A "Esquerda Plural" obteve sucessos apreciáveis, graças à dinâmica por ela impulsionada», defendeu.
«Através do seu voto, as francesas e os franceses indicaram à maioria e ao governo a sua vontade de que o trabalho prossiga e se amplie no sentido da concretização das mudanças que eles aguardam», acrescentou Hue.
O primeiro-ministro considerou que os números saídos das eleições «confortam o governo e a sua linha de trabalho» e provam a solidez da aliança de esquerda. «É a primeira vez na quinta República que as eleições posteriores às legislativas não consistem numa sanção ou numa advertência ao governo», indicou.
Para o porta-voz dos gaulistas do RPR, François Fillon, os resultados «mediocres, muito mediocres» da direita vêm «consolidar a dissolução do último Junho». Nicolas Sarkozy, membro do mesmo partido, partilha da mesma opinião: estas eleições «são a confirmação do nosso revés» das legislativas.
Para a direita estas eleições são, de facto, uma nova e séria derrota. A tal ponto que o presidente do RPR, Phileppe Séguin, considerou que os resultados alcançados permitem prosseguir com a renovação interna emprendida pelo seu partido.
Édouard Balladur, antigo primeiro-ministro e também membro do RPR, vai mais longe, e defende que não se trata nem de «renovar» nem de «reagrupar» a direita, mas sim de «reconstruí-la».


«Avante!» Nº 1268 - 19.Março.98