Brasil
Desemprego
faz parte da estrutura económica
O desemprego não é um acidente do Plano Real brasileiro, mas é uma característica do modelo económico do presidente Fernando Henrique Cardoso. Esta é uma das conclusões de um estudo levado a cabo por Sandra Starling, deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que adianta que este modelo põe de lado qualquer possibilidade de crescimento económico, condição essencial para o aumento do número dos postos de trabalho.
«O desemprego não é um
contra-senso neste tipo de plano nem uma consequência
inesperada. O desemprego está embutido nesse modelo», lê-se no
estudo tornado público na terça-feira.
Sandra Starling aponta o dedo ao governo e acusa-o de ser
responsável pela situação económica precária da população
brasileira e, inclusivamente, de a agravar.
O sindicalismo é uma das áreas mais visadas pela política de
Henrique Cardoso, usando «pesadas multas como instrumento para
coibir a liberdade sindical» e intervindo no sentido de limitar
a acção sindical no funcionalismo público.
Outra decisão do governo consistiu em considerar nulas as
cláusulas de reajuste automático acordadas entre os empregados
e os seus patrões. Na opinião da deputada, «esta proibição
só tem paralelo com a primeira medida da ditadura militar contra
os trabalhadores no início da década de 60».
Paralelamente à diminuição jurídica do emprego, o executivo
brasileiro adoptou ou prepara-se para adoptar medidas com graves
consequências a nível do mercado de trabalho a curto, médio e
longo prazos. Entre elas conta-se o aumento da idade de reforma,
a ausência de cobertura das vítimas de acidentes ou doenças de
trabalho e processos de privatização e reestruturação
produtiva.
Strarling sublinha ainda a reforma administrativa, «que
permitirá às administrações públicas enxugar excessivamente
o quadro de funcionário, ampliando o nível de desemprego».
As propostas do PT
Para o PT, as pressões do
processo de globalização da economia desempenham um papel
preponderante neste processo, nomeadamente os altos juros, o
câmbio sobrevalorizado, a abertura comercial indiscriminada e os
estímulos à entrada de capitais estrangeiros.
«Tudo isso com as suas inevitáveis consequências, isto é,
contenção do crescimento da economia, agravamento do déficit
público, a falência de empresas e a substituição de
mão-de-obra por processos de automação», comenta a deputada
«petista».
O PT antevê a resolução deste problema através de uma série
de medidas, nomeadamente a redução gradual do horário de
trabalho, a limitação de horas extra e a adoptção do chamado
«banco de horas com capitalização» (as horas extraordinárias
valem o dobro), o estímulo às pequenas empresas e a plena
liberdade sindical, bem como a protecção dos trabalhadores
contra as consequências do avanço tecnológico.
A reforma agrária, o estímulo às formas cooperativas de
produção e a instituição de um rendimento mínimo garantido
são medidas também defendidas.