Chile
Pinochet senador sob fortes protestos


O ex-ditador do Chile Augusto Pinochet assumiu o cargo de senador vitalício, não eleito, num ambiente de contestação dentro e fora do Senado.

A cerimónia teve lugar no dia 11 no Congresso, após o protesto de outros senadores, que entraram na sala com grandes fotografias de vítimas da ditadura militar e de desaparecidos. «Onde estão?» questionavam os senadores num cartaz.
Depois da exigência da sua retirada para o prosseguimento da sessão, as fotos foram escondidas. «Aceitamos retirar as fotos, porque jamais impedimos o funcionamento desta instituição ou da democracia», explicou o socialista Ricardo Núñez.
«Não faz parte da tradição democrática do Chile ter como senador um ditador como Pinochet», afirmou o democrata cristão Jorge Lavadero. Pinochet, imperturbável, manteve-se em silêncio durante praticamente toda a cerimónia.
«Declaro que estão incorporado no Senado», disse o presidente da Câmara Alta referindo-se aos novos membros. «Com o nosso protesto», acrescentou Lavadero.
Na tribuna dos convidados, os apoiantes do general, responderam aos protestos com gritos e insultos. O conflito desceu da galeria para o plenário e agravou-se ao ponto de parlamentares da direita e da esquerda se envolverem em cenas de violência.

Contra a vontade da população

O ambiente foi igualmente tenso na Câmara dos Deputados, onde a sessão foi suspensa duas vezes.
Mas onde a onda de contestação mais se notou foi nas ruas de Valparaíso e de Santiago. As forças policiais reprimiram severamente as manifestações contra o juramento de Pinochet, usando material anti-distúrbios e jactos de água. Numerosas pessoas foram detidas.
Entre os muitos feridos contam-se a presidente do Partido Comunista Chileno, Gladys Marín, derrubada pela pressão da água, e a presidente do Grupo de Familiares de Detidos e Desaparecidos, Sola Sierra.
Pinochet é o único senador vitalício do Chile, cargo reservado para si pela Constituição de 1980, redigida durante o regime militar com o objectivo de beneficiar o ditador.
A Constituição foi promolgada após um referendo considerado fraudulento pela oposição, permitindo a Pinochet manter-se de alguma forma no poder através do seu lugar de comandante-chefe do exército nacional, onde se manteve oito anos e que só abandonou na semana passada.
Os resultados do referendo de Outubro de 1988 foram claros: 57 por cento dos chilenos manifestaram-se contra a continuação do ditador à frente dos destinos do país. Contudo, Pinochet, apoiado essencialmente por empresários e pelas forças armadas, insiste em conservar um lugar para si nos cargos que decidem os destinos do Chile. Mesmo contra a vontade da população.


«Avante!» Nº 1268 - 19.Março.98