Dia da Mulher no PE
Mais
depressa se apanha um mentiroso ...
Como é usual, o Parlamento Europeu não ignorou as comemorações do Dia Internacional da Mulher. Este ponto foi contemplado na ordem de trabalhos da sua sessão plenária de 9 de Março. Contando com a presença da Comissária Emma Bonino, o tema central da discussão acompanhou a campanha este ano desenvolvida em toda a Europa de solidariedade com as Mulheres do Afeganistão, e de condenação de um regime que viola os seus direitos mais elementares.
No debate realizado, esta foi
efectivamente a pedra de toque e as/os deputadas/os portugueses
intervenientes não deixaram de o referir. Helena Torres Marques
(do PS) referiu igualmente as mulheres da Argélia e de Timor e
apelou «à denúncia de todas as formas de violência que sobre
elas e os seus próximos se abate, sejam estas formas invisíveis
e silenciosas, de pressão e ameaça, de dependência, ou formas
gritantes de violação, de agressão, de completa opressão».
Quanto ao eurodeputado do PCP Sérgio Ribeiro, na sua
intervenção não deixou de lembrar a origem do dia da Mulher,
evocando a luta das operárias nova-iorquinas do têxtil pela
redução do horário de trabalho. Sérgio Ribeiro, para além de
ter afirmado a sua solidariedade com as mulheres afegãs, referiu
igualmente a necessidade de outras solidariedades particulares,
como em Portugal «onde se faz da interrupção voluntária da
gravidez um factor de luta política-partidária à revelia dos
direitos das mulheres».
No final do debate foi votada uma proposta de resolução comum,
ou seja, assinada por quase todos os Grupos do PE.
Com esta resolução, o PE reafirma que os Direitos da Mulher
constituem uma parte inalienável, total e indissociável dos
Direitos Humanos e manifesta a sua solidariedade para com as
mulheres que continuam a lutar pela sua concretização. Condena
a prática da mutilação sexual e solicita a sua proibição.
Pede à Comissão Europeia que vele pela aplicação do
princípio do «mainstreaming» e exorta à melhoria da
informação das mulheres sobre os seus direitos fundamentais.
Reafirma a sua proposta para que 1999 seja considerado Ano
Europeu contra a violência contra as Mulheres.
A este texto foram apresentadas algumas alterações. Assim, o
Grupo GUE/NGL (em que se inserem os eurodeputados do PCP) propôs
a inclusão na resolução dos direitos de reprodução tais como
foram reconhecidos na Conferência das ONU de Viena 1993. Esta
alteração foi aprovada com votos dos deputados do PCP e PS, mas
contou com votos contra do PSD. O PP partilhou os seus votos
entre o contra e a abstenção.
Duas alterações foram propostas pelo Grupo d'«Os Verdes».
Numa propunha-se a rejeição de todas as formas de
discriminação contra as mulheres baseadas em doutrinas ou
crenças religiosas. Esta proposta foi aprovada com votos do PCP,
PS e PP, mas o PSD votou contra a sua admissão. A outra
alteração visava o reconhecimento da perseguição com base no
sexo ou na orientação sexual como critério para concessão de
asilo na UE. Votaram favoravelmente os deputados do PCP, no PS
houve votos a favor mas também duas abstenções, o PSD e PP
votaram contra.
Como se pode concluir, uma coisa é votar generalidades sobre as
quais todos estão de acordo. Outra coisa é entrar na
concretização e na especialidade, pois aqui a situação
complica-se (mais depressa se apanha um mentiroso ...).