Três
farpas
Na passada sexta-feira, uma memorável notícia do
«Público» arrancava assim : «Tudo começou em plena
campanha autárquica. Num almoço onde estava Marcelo Rebelo de
Sousa, o comendador Ilídio Pinho ofereceu dinheiro às
freguesias onde o PSD ganhasse as eleições. Ontem cumpriu: de
livro de cheques em punho distribuiu 50 mil contos pelas juntas
sociais-democratas, que receberam numa base de quatro mil escudos
o voto no PSD». Acrescentava ainda a notícia que o
conhecido empresário afirmou que «o dinheiro é meu e faço
com ele o que quiser».
A notícia fala como um livro aberto e, por isso, talvez baste
lembrar que, se o dinheiro é de Ilídio Pinho e se ele julga
poder fazer dele o que quiser, talvez não se deva esquecer que a
democracia é nossa e os Ilídios Pinho não deverão poder fazer
dela o que quiserem. E talvez seja também de lembrar que, um
mês depois de assistir presencialmente à corruptora promessa de
Ilídio Pinho, lá estava Marcelo Rebelo de Sousa a publicar no
«Expresso» um artigo intitulado «PSD, partido de cartel,
Não, Obrigado!» onde afirmava que o partido de cartel «é
a perversão do voto e da democracia».
Depois de Seixas da Costa, Secretário de Estado dos
Assuntos Europeus, já ter tido a audácia de confessar que a
pergunta proposta pelo Governo para o referendo sobre matéria
europeia se destina a confirmar uma opção que nos parece
hoje maioritariamente apoiada pelo povo português», chegou
a vez de Freitas do Amaral declarar que a questão da pergunta «não
é fundamental» pois «o que é fundamental é dar aos
portugueses» a possibilidade de «confirmar as
decisões» que os responsáveis políticos nacionais têm
tomado nos últimos anos em relação à integração do país no
espaço europeu.
Ficamos assim a saber que o insigne catedrático de Direito, que
já há trinta anos era assistente de Direito Constitucional,
acha espantosamente que a pergunta não é fundamental e que,
pelos vistos, qualquer uma serve, desde que seja para «confirmar»
o que já antes foi decidido sem consulta ao povo português.
E ficamos também a saber que nem Seixas da Costa nem Freitas do
Amaral jamais conseguirão entender que cada um é livre de lutar
pelo resultado do referendo que quiser, mas ninguém tem o
direito de dizer que um referendo é só para «confirmar» seja
o que for. Pela simples razão de que todos e cada um dos
referendos só podem ser para consultar os portugueses, e tanto
para confirmar como para negar, consoante a sua soberana vontade.
Na manhã de passada terça-feira, a rádio
trouxe-nos a gulosice propagandística do Sr. Leston Bandeira,
director de comunicação da Portugal Telecom, embrulhada no
argumento de que os dados do INE revelariam que uma alegada baixa
das «comunicações» teria determinado uma baixa da inflação,
o que só comprovaria a teimosa propaganda da empresa que lhe
paga o ordenado.
O Sr. Leston Bandeira nem sabe no que se foi meter. É que agora
ficamos todos é à espera que o INE esclareça o país como é
que «arranjou» essa misteriosa baixa das «comunicações». É
que tais «dados», longe de credibilizar a propaganda da PT, só
podem adensar as já fortes suspeitas de falta de credibilidade
dos dados sobre a taxa de inflação em Portugal. Vítor
Dias