OS XERIFES
do Mundo


Mal a Humanidade suspirava de alívio pela solução diplomática encontrada para o conflito iraquiano, os fabricantes de crises aproveitaram a explosiva situação no Kosovo para aí se estabelecerem em cheio e justificarem o seu título de "xerifes" do Mundo.
Ora a situação não pode ter apenas como ângulo de observação os noventa por cento de albaneses. É preciso não esquecer que o Kosovo é o berço da nação Sérvia e que ali se travaram batalhas históricas entre os sérvios e os ocupantes turcos. Foi em Pristina (capital do Kosovo) que os sérvios foram derrotados no século XIV pelos turcos . É essencial Ter presente que esta percentagem tão elevada de albaneses não foi sempre assim ao longo do século. Há 1oo anos a maioria era sérvia. Na 2º Guerra o Estado fantoche da "Grande Albânia" formado pelos italianos e depois alemães massacrou e expulsou a população sérvia da região central de Kosovo.
Depois do fim da segunda guerra e no quadro da Federação Jugoslávia , Tito e da direcção da LCJ intervieram no sentido de facilitar a concentração de albaneses no Kosovo em detrimento dos sérvios.
Sabe-se como nos Balcãs todos os territórios estão profundamente misturados de nacionalidades e etnias. E as diversas nacionalidades aceitaram as fronteiras dentro duma Federação como era a Jugoslávia, mas destruída essa Federação , por obra da Alemanha de Kohl, aquilo que era pacífico deixou de ser.

Há muito tempo que várias organizações políticas albanesas optaram pelo separatismo e pela via armada, contando com fortes apoios da Albânia, de círculos dos EUA, de emigrantes na Alemanha e na Suíça. Essas acções militares têm visado não só alvos militares sérvios, como cidadãos sérvios e albaneses. A escalada de ataques militares dessas organizações não deixou indiferentes as autoridades de Belgrado. Os fabricantes de crises, com todo o seu poder "comunicacional" substituíram o Iraque pelo Kosovo e de novo vieram diabolizar a Sérvia absolvendo os "amigos" kosovars. Os que são cúmplices pelos massacres de curdos, palestinianos, timorenses, kanakes, sahauris, das mulheres afegãs vítimas dos "taliban", dos indígenas de Chiapas, no seu apetite voraz de dominarem o mundo e "fabricaram" esta crise nos Balcãs. Com os "média" que controlam conseguiram passar de Bagdad para o Kosovo e em doses cavalares de emoção a fim de impedir o lado racional e complexo da realidade.
Se é perfeitamente legítimo que uma população de 90% de albaneses afirme a sua identidade nacional e reivindique um estatuto de autonomia, não deixa de ser legítimo que a Sérvia defenda as fronteiras internacionalmente reconhecidas. E não deixa de ser curioso que a recusa do diálogo não provém das autoridades sérvias, mas sim de alguns dirigentes albaneses que defendem a independência do Kosovo, bem sabendo que uma tal posição não encontrará qualquer base de diálogo do lado sérvio.
E também não é de pouca importância que de entre as várias formações albanesas nem todos tenham a mesma posição. Não se deve confundir grupos armados que lutam militarmente contra os sérvios e organizações de carácter político que lutam no quadro da Sérvia por um estatuto diferente do Kosovo.
Seja como for a melhor solução , por mais complexa que seja, há-de basear-se no diálogo e na busca de uma solução que tendo em conta a existência no Kosovo de 90% de albaneses também há-de ter em conta a integridade territorial da actual Jugoslávia.

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Não muito longe dos Balcãs, no Médio Oriente, mais concretamente na Cisjordânia, terra palestiniana, os ocupantes israelitas continuam a matar palestinianos violando todos os Acordos assinados em Madrid, Oslo, e Hébron. Israel possui o sexto maior arsenal nuclear do mundo. E, no entanto, não só não sofre quaisquer sanções, nem embargos, como é tido como um parceiro de todo o mundo ocidental.

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Suharto fez-se eleger pelos seus amigos pela sexta vez consecutiva. Às suas ordens o exército indonésio continua a massacrar o povo timorense e a reprimir a luta do povo indonésio pela liberdade, mas os EUA e as potências europeias tudo esquecem quando os negócios com a Indonésia lhe dão chorudos negócios... — Domingos Lopes


«Avante!» Nº 1268 - 19.Março.98