Alemanha
SPD e CDU cantam vitória


O resultado das eleições de domingo em Schleswig-Holstein (Norte da Alemanha), traduz a luta renhida que o SPD e a CDU travam enquanto se preparam para a batalha das eleições gerais de Setembro. Os dois maiores partidos alemães conseguem aumentar a sua votação, e os Verdes perdem terreno. As posições do eleitorado radicalizam-se.

O SPD tem razões para estar satisfeito: no escrutínio de domingo conseguiu 42,4 por cento dos votos, o que representa um aumento de três pontos em relação a 1994. Mas também a CDU do chanceler Helmut Kohl pode cantar vitória, pois chegou aos 39,1 por cento, conseguindo uma subida, ainda que modesta, em relação aos resultados de há quatro anos (37,5 por cento).

Os grandes derrotados do escrutínio foram os Verdes, que desceram para 6,8 por cento; uma perda de 3,5 por cento atribuída à defesa, em plena campanha eleitoral, de um drástico aumento do preço dos combustíveis. Coligados com o SPD no governo regional, os Verdes arriscam tornar-se uma ameaça para as pretensões social-democratas a nível nacional.

Em franca expansão neste escrutínio esteve a abstenção, que passou de 30 para 37 por cento.

A leitura do comportamento eleitoral dos cerca de 2,2 milhões de eleitores inscritos em Schleswig-Holstein não é linear, sobretudo se se pretende extrapolar para o que se vai passar nas eleições gerais de Setembro próximo.

O PSD centrou a sua campanha em dois temas que dominam as atenções dos alemães: economia e emprego. Mas as respostas a estas preocupações, a nível local, não diferem muito das que vêm sendo aplicadas pela coligação no poder - resolver os problemas orçamentais através das privatizações, favorecendo a flexibilização dos salários e das condições de trabalho, o que naturalmente não agrada aos sindicatos. A diferença, segundo o responsável local do SPD, Andreas Paust, é que em contrapartida o governo regional apoia a criação de pequenas e médias empresas. Resta saber se chega para justificar em Setembro a escolha de Gerhardt Schrôder para chanceler.

Contradições

A direcção nacional do PSD tem consciência destas contradições. Num comício em Kiel, durante a campanha eleitoral, o presidente do partido, Oskar Lafontaine, teve a seu cargo o discurso «de esquerda», advogando o aumento do poder de compra, a luta contra o desemprego, a defesa dos trabalhadores e das conquistas sociais. A Schrôder coube o discurso da modernização, acenando às camadas médias e aos investidores com vistas largas, aos criadores de riqueza.
Lafontaine entusiasmou, Schrôder nem tanto.

Entretanto, dois dias antes das eleições de Schleswig-Holstein, Helmut Kohl recebeu em Bona o seu homólogo britânico, Tony Blair, na tradicional cimeira germano-britânica. Os dois governantes manifestaram-se em total acordo sobre as questões da actualidade da União Europeia (UE), que dominaram o encontro.
Kohl salientou a «estreita, amistosa e cordial» colaboração entre os dois governos em temas como o futuro alargamento da UE ao Leste, a Agenda 2000 ou a entrada em vigor do euro.
Num encontro com a imprensa, Kohl não se furtou a falar das eleições gerais. Questionada sobre se «a Alemanha precisa de um Tony Blair», respondeu: «não posso saber: nós não temos nenhum Tony Blair».


«Avante!» Nº 1269 - 26.Março.98