África
Clinton no «berço da humanidade»
com negócios na carteira
«Hoje, do Gana a Moçambique, da Costa do Marfim ao Uganda, economias em crescimento estão a alimentar uma transformação em África» - as palavras são do Presidente dos EUA, Bill Clinton, que desde segunda-feira, e durante onze dias, está a efectuar um périplo africano anunciado como destinado a «pôr no mapa uma África nova».
Para o maior périplo africano da história da
diplomacia norte-americana, Clinton não levou mais do que promessas de novas formas de
«parceria», mas no discurso presidencial não faltam promessas da sua intenção de
contribuir para «acabar com estereotipos», de forma a que os investidores e comerciantes
se interessem pelo continente e o ajudem a integrar-se no movimento de globalização
económica. Um «interesse» e uma «ajuda» de reflexos suficientemente importantes na
economia dos EUA para justificar a viagem de Clinton acompanhado de uma comitiva de cerca
de mil pessoas.
Enquanto no Senado norte-americano continua pendente, à espera de aprovação, uma lei
para a promoção de oportunidades e negócios entre os dois continentes, o Presidente vai
afirmando que o seu objectivo é conseguir, a nível global, a realização do «sonho»
de Martin Luther King: «que todos os homens sejam livres e iguais».
Para Clinton, o «sonho» ganhou pés para andar porque a África subsaariana mudou na
última década, tendo chegado à fase da sua história «em que está disposta a aprender
com o passado e a imaginar o futuro», para uma «novo começo».
Para atalhar caminho, os EUA vão dando conselhos: «Para que a prosperidade e a
democracia ganhem raízes», há que generalizar os direitos humanos para todos e
«erradicar e prevenir a violência». E aprofundar as relações económicas com
Washington, naturalmente.
O périplo de Clinton, que começou no Gana, inclui visitas ao Uganda, Ruanda, África do Sul, Botsuana e Senegal.
Aliadas com os interesses na esfera dos negócios
estão as preocupações norte-americanas com a defesa. Neste âmbito, as conversações
terão o seu ponto alto na África do Sul, onde se espera que Clinton analise com Nelson
Mandela a criação de uma força de paz africana. Os dois Presidentes encontram-se no
fim-de-semana na Cidade do Cabo, altura em que será pedido o apoio da África do Sul,
nomeadamente em termos de treino, à força projectada pelos EUA para intervir em caso de
crises no continente africano. A África do Sul preside actualmente à Organização de
Unidade Africana.
A criação da referida força de paz, proposta pela primeira vez em 1996 pelo antigo
secretário de Estado norte-americano Warren Christopher, conta hoje com o apoio dos
governos francês, britânico e norte-americano, e recebeu já o acordo «de princípio»
do conselho de ministros da OUA. Reunido no início do mês em Adis Abeba, Etiópia, o
conselho manifestou a sua «gratidão» pela iniciativa.
A concretizar-se, a força de paz interafricana ser comandada em conjunto pelas Nações
Unidas e pela OUA.