Uma reflexão empenhada e serena


No PCP está em curso um amplo processo de reflexão sobre a dinamização das organizações de base e da intervenção activa dos militantes na afirmação política do Partido.
O impulso para esta reflexão foi dado pelo CC do Partido, na sua reunião de Fevereiro último. Como objectivos, apontam-se o reforço da ligação às massas populares, o melhor conhecimento dos problemas da sociedade, a mais eficaz adequação do Partido às exigências da luta social e política.
Lançando este apelo, o CC comprovou uma profunda confiança nos militantes e no Partido, na vitalidade da sua democracia interna, na sua capacidade de responder eficazmente às perspectivas de intervenção que se lhe apresentam. Demonstrou, também, a audaciosa visão de uma organização do Partido que não é um fim em si mesmo, mas sim o instrumento para que o Partido, de acordo com a sua natureza e os seus princípios, responda aos desafios colocados pela evolução da sociedade e aos objectivos que são a razão da sua existência.

Acontece que essa resolução do CC fez notícia. Mas não só pela sua real importância. Lamentavelmente, em alguns casos, com deformações, deturpações e divagações que alteram e desvirtuam o seu conteúdo, significado e objectivos.
Pretenderam alguns apresentá-la como ponto de partida para uma "refundação do PCP" - demonstrando com isso a ignorância de quem não leu a Resolução Política do último Congresso do PCP (XV) onde as directivas agora desenvolvidas pelo CC já vinham apontadas nas suas linhas gerais.
Comentaram-na outros sem sequer terem lido o seu texto, anunciando em tom pretensamente jocoso que agora "também o PCP terá as suas lutas de galos e guerras de campanário".
Aproveitou a ocasião o "Independente" para publicitar enredos intriguistas sobre "divisões e tendências" na direcção do PCP - em mais uma das operações de diversão que periodicamente são lançadas visando infiltrar a intriga no próprio interior do Partido.

Muito mal andariam os comunistas se deixassem enredar-se nestes jogos, subestimando o amplo horizonte que as propostas de reflexão do CC contêm. A simples e necessária leitura crítica dos factos lhes permite identificar as deturpações que rasteiram ideias, amesquinham a verdade, desagregam projectos.
Contra a acção desagregadora das deformações e deturpações tem aliás o PCP uma sólida barreira: a sua natureza, as suas características, o seu estilo e métodos de trabalho, a sua própria história e a cultura política que criou.
Fundamento essencial dessa barreira é o trabalho colectivo e a inteligência afectiva que nele se forja. É no trabalho colectivo e não em "guerras de campanário" ou "lutas de galos" que o Partido se caldeou e aos seus militantes.
É essa fulgurante cooperação, participação, livre confronto e partilha de ideias, pontos de vista, opiniões, experiências, gerações, que faz deste PCP um caso único no panorama político português.
E é participando empenhadamente nessa reflexão comum, sem se deixarem desviar pelas deformações que surjam, que os comunistas poderão empreender com sucesso o audacioso processo de descobrir sem medo e desbravar caminhos - com seriedade, serenidde e fratrenidade.— Aurélio Santos


«Avante!» Nº 1269 - 26.Março.98