Projecto de lei do PCP sobre
legislação eleitoral
Mais
justiça
na conversão de votos em mandatos
O PCP realizou ontem uma conferência de imprensa com a presença de Luís Sá, membro da Comissão Política, onde deu conhecimento do projecto de lei que o Grupo Parlamentar comunista vai apresentar para reforço da proporcionalidade no sistema eleitoral em alternativa aos círculos uninominais defendidos pelo PS e pelo PSD.
Na sua declaração,
Luís Sá começou por referir o facto de o PS e o PSD
procurarem «acelerar o processo de alteração da lei eleitoral
para a AR», patente na entrega já feita pelo PSD e pelo Governo
PS na Assembleia dos seus projectos propondo a criação circulos
uninominais, «apesar de a actualização do recenseamento não
estar terminada e, por isso, faltar a esses projectos a
necessária delimitação geográfica desses círculos.»
No mesmo sentido vai, na opinião do PCP, o agendamento pelo PSD
já para 23 de Abril do debate e votação na generalidade do seu
projecto.
Face, pois, a «esta vísivel aceleração» do processo, o PCP
considera oportuno «reafirmar a sua frontal oposição quer à
criação de círculos uninominais ( em que se elege apenas um
candidato) proposta pelo Governo e pelo PSD quer à redução do
número de deputados exigida pelo PSD e em relação à qual não
existem garantias seguras de que não acabará por ser aceite
pelo PS».
Em relação aos
círculos uninominais, considera Luis Sá que, mesmo sendo estes
de candidatura e não afectando a conversão de votos em
mandatos, «afectam porém o número de votos a converter» e
«tem por objectivo essencial bipolarizar artificialmente os
comportamentos eleitorais, e acima de tudo, favorecer o partido
do poder».
Com estes círculos, acrescentou, «procura-se, para além de uma
bipolarização a nível nacional, apresentando para tal como
instrumento a inexistente figura dos candidatos a
Primeiro-Ministro, uma bipolarização a nível local com os
candidatos de círculo uninominal». Para além de que «não se
verificará qualquer «aproximação» geral dos deputados aos
eleitores», pois os candidatos eleitos serão muitas vezes
representantes de uma minoria, correspondente à maioria relativa
que tiver votado no deputado eleito, deixando sem representação
muitos e muitos milhares de eleitores».
Entretanto, afirmou Luís Sá, «considerando que esse é o
principal aspecto do sistema eleitoral vigente que efectivamente
carece de ser melhorado e aperfeiçoado, a Comissão Politica do
PCP encarregou o Grupo Parlamentar do PCP de apresentar
proximamente na AR um projecto de lei visando reforçar a
proporcionalidade do sistema eleitoral para a AR».
«Com esta iniciativa, o PCP reforça as condições da sua
intervenção no debate desta problemática e no combate às
perigosas propostas do Governo e do PSD e sobretudo dá uma
importante contribuição construtiva para fazer corresponder
melhor o número de deputados eleitos por cada partido ao número
de votos que efectivamente receberá, isto é para tornar a
democracia mais representativa e para fortalecer o princípio da
igual eficácia de voto dos cidadãos, independentemente dos
partidos que apoiam ou escolhem».
Assim, serão propostas essenciais a apresentar pelo PCP, para além de regras técnicas que a experiência tem aconselhado:
- a criação de um círculo nacional de 50 deputados, como factor de correcção adicional da proporcionalidade, de estímulo à participação de todos, em especial dos que poderiam ser levados à abstenção por entenderem que o seu voto não é «útil» ao nível regional, bem como de de equilíbrio global do sistema;
- a adopção como círculos eleitorais do Continente da área das oito regiões administrativas já aprovadas na Assembleia da República em vez dos actuais dezoito distritos, de existência constitucionalmente transitória, muitos deles com escasso número de deputados e que praticamente excluem a proporcionalidade;
- a substituição do método de Hondt. como critério na repartição dos deputados pelos círculos regionais pelo método do quociente simples e maior resto, com o objectivo de beneficiar os círculos de menor dimensão e colocar fim a uma situação que prejudica o interior do País e beneficia os maiores círculos»
Ao apresentar um projecto de lei eleitoral para a AR, o PCP anuncia que dará firme combate a todas as propostas que, directamente pelo método de conversão de votos em mandatos, ou indirectamente, induzindo comportamentos eleitorais, procuram um rotativismo que dificulte ao povo a conquista de verdadeiras alternativas a políticas contra as quais queira manifestar o seu descontentamento».