Na Madeira
Sampaio
ouve reclamações
Durante uma semana a Região Autónoma da Madeira foi centro das atenções do País. Concretamente quando da Presidência Aberta que aqui foi recentemente promovida pelo Presidente da República, Jorge Sampaio.
A visita, porém,
contrariamente ao que pretendia Alberto João Jardim, não serviu
apenas para ver o que a «Pérola do Atlântico» tem de bom. O
PCP e a CDU aproveitaram a ocasião para denunciar os problemas
que mais afligem largos sectores da região da Madeira e impedem
o seu desenvolvimento.
Assim, logo no segundo dia da visita, um grupo de activistas da
CDU, moradores nas zonas altas do concelho, entregaram a Jorge
Sampaio uma carta onde apontavam as dificuldades sentidas nas
suas áreas de residência, pedindo que não se limitasse a
cumprir o «percurso turístico» que lhe havia sido proposto
pelo Governo Regional.
Num outro dia foi a vez dos
produtores de banana entregarem ao Presidente da República uma
carta denunciando as ameaças que pairam contra aquela que é
afinal uma «peça-chave» da economia regional: a produção da
banana.
Os produtores da banana temem a alteração das regras de
comercialização pretendida pelos Estados Unidos no sentido de
aumentar a exportação da banana-dólar para a Europa. Uma
pretensão que, a concretizar-se, representaria um golpe profundo
nesta produção com repercussões gravíssimas na vida de
milhares de famílias madeirenses.
A carta, acompanhada de fotocópia do abaixo-assinado dirigido ao
Parlamento Europeu, à Comissão Europeia e ao Conselho de
Ministros da Agricultura, pedia ao Presidente da República que
sensibilizasse os órgãos do poder para uma intervenção mais
enérgica na defesa da banana da Madeira.
A Comissão Concelhia do Funchal do PCP, por sua vez, organizou uma recolha de assinaturas reivindicando o acesso gratuito dos madeirenses aos três canais de televisão nacional que só podem ser vistos através da TV Cabo - RTP2, TVI e SIC. Um abaixo assinado onde os comunistas consideravam que as desigualdades resultantes da insularidade deveriam ser corrigidas pelo Estado, devendo o acesso à informação ser igual para todos os cidadãos, sejam eles do Continente ou das regões autónomas.
A visita do Presidente à
Madeira foi ainda marcada por duas iniciativas distintas, uma do
PCP - já noticiada - de protesto contra a retirada pela Câmara
Municipal do Funchal de cartazes de denúncia do aumento das
tarifas telefónicas, outra - na sequência da entrega da carta
dos moradores acima referidos - a visita inesperada de Jorge
Sampaio à Casa do Porrão, sita num bairro onde grassa a
miséria mais extrema, patente no «postal ilustrado» que os
moradores ofereceram ao PR com imagens das suas habitações.
De facto, segundo os comunistas, são verdadeiramente chocantes
as situações habitacionais de centenas de moradores. Basta
referir, por exemplo, que na Casa do Porrão, numa área inferior
a 300 m2, vivem 170 pessoas, em situação idêntica vivem 330 no
bairro do Belém, sendo que no Sítio do Rancho 12 pessoas
habitam um poço onde mal se respira e impera a doença.
Na opinião do PCP, face a uma situação de tamanha miséria, é
fácil imaginar a degradação social e familiar, os conflitos
dela decorrentes, o aproveitamento escolar das crianças que
assim vivem e o futuro que as espera: a marginalidade e a
delinquência.
Uma vitória saldou, contudo, esta visita: os moradores puderam ouvir da boca do Presidente do Governo Regional da Madeira a promessa de que no prazo de um ano, todos seriam realojados em casas com condições.