Luta dos funcionários judiciais
Governo
sem respostas para a crise da Justiça
"É preciso saber se o Ministério da Justiça
pretende resolver, de facto, os problemas dos funcionários
judiciais, ou se quer resolver a grave crise da Justiça contra
os oficiais de Justiça".
Nestes termos confrontou a deputada comunista
Odete Santos o secretário de Estado Adjunto do ministro da
Justiça, Matos Fernandes, a propósito da luta travada por
aquele grupo profissional pela dignificação da sua carreira.
Foi na passada sexta-feira,
na sessão de perguntas ao Governo que habitualmente preenche a
agenda plenária daquele dia da semana.
Odete Santos começou por recordar algumas das etapas do processo
que conduziu à situação actual, salientando o facto de já em
Dezembro de 1995 ter sido apresentado pelo Sindicato dos
Funcionários Judiciais ao ministro da Justiça um documento no
qual, a par das reivindicações da classe, se fazia uma análise
das principais causas que tinham conduzido a uma grave situação
na área da Justiça.
"Do documento transparece uma grande esperança no diálogo necessário à resolução dos problemas com que se debatem os oficiais de Justiça", observou, antes de chamar a atenção para o facto de, entretanto, passados mais de 2 anos desde a sua apresentação, "praticamente nada ter sido feito" relativamente às justas reivindicações dos funcionários judiciais.
Recordada por Odete Santos
foi ainda a tentativa levada a cabo pelo Ministério da Justiça,
em Janeiro último, quando estava prestes a eclodir a greve dos
funcionários judiciais - greve que concitou uma adesão em
massa que evidenciou o mau estar existente nos Tribunais -,
para impedir a convocação da greve, com propostas inaceitáveis
para quem luta há mais de 10 anos pela dignificação da
carreira e pela dignificação da Justiça.
"São péssimas as condições de trabalho existentes nos
Tribunais. A informatização, mas uma informatização a sério,
ainda não chegou aos Tribunais, onde os computadores se limitam
a ser meros processadores de texto, vazios de programas que
permitam a gestão de processos, que libertem os funcionários
judiciais das pesadas tarefas burocráticas em que perdem a maior
parte do seu tempo", exemplificou.
Por si citada foi também a gravação da prova, imprescindível
para uma plena garantia dos direitos dos cidadãos, e que em sua
opinião "está ainda e apenas no papel".
E acrescentou: "os oficiais de justiça, trabalhando na
situação de plena disponibilidade e exclusividade, fazem horas
extraordinárias sem remuneração, trabalham aos sábados e
domingos, impedindo com o seu desumano esforço que a crise da
justiça se transforme num caos".
Ora é neste quadro que ainda se torna mais visível, como
salientou Odete Santos, o desajuste existente no sistema
retributivo dos funcionários judiciais, sobretudo quando
comparado com o nível de remunerações de outros funcionários
exercendo funções similares.
"Por que motivo se ganha menos nos Tribunais Judiciais
onde se garantem os direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos, do que nos Tribunais Tributários, com um quadro de
funcionários dependente do Ministério das Finanças?",
inquiriu.
Criticada por Odete Santos, noutro plano, foi também a ausência de resposta do Governo à questão do pagamento do subsídio de risco aos funcionários judiciais, a qual continua por resolver, em situação de manifesta desigualdade com outras carreiras profissionais (caso, por exemplo, da Inspecção das Actividades Económicas).
Ora foi este conjunto vasto de questões que não obteve no decorrer do debate resposta satisfatória por parte do Governo, levando Odete Santos a interrogar-se, com uma ponta de ironia, sobre o que vai, afinal, fazer o Ministério da Justiça: "agora que já se anuncia outra greve, o Ministério da Justiça vai apenas gerir as greves?"