PCP acusa Governo de enganar
portugueses
Afinal
seguro automóvel
em vez de baixar aumentou
O Grupo Parlamentar
do PCP acusou o Governo de enganar os portugueses ao anunciar que
o valor dos prémios do seguro automóvel iriam baixar e desafiou
o primeiro-ministro a explicar ao País o que se está a passar
nesta matéria.
Lino de Carvalho, que levou a questão a plenário, numa
intervenção no período de antes da ordem do dia, sublinhou
que, ao contrário do que determina a "Lei Sócrates",
em vigor desde 01 de Março, "os portugueses estão a pagar
mais" pelos seguros das suas viaturas.
"É uma nova versão,
agora nos seguros, da anunciada baixa de preços nos telefones.
Nos telefones como no seguro automóvel afinal a baixa... é para
cima! É uma nova originalidade socialista", comentou Lino
de Carvalho, que disse esperar que o "Governo, e o senhor
primeiro-ministro em particular, venham agora dizer uma de duas
coisas: ou que enganaram os portugueses ou, então, que as
Companhias de Seguros estão a violar a Lei e que o Governo vai
actuar sobre elas".
Reportando-se aos "dados disponíveis", o parlamentar
comunista não teve dúvidas em considerar que as Companhias de
Seguros estão a "agir de forma arrogante e concertada, no
sentido de tornear a Lei", admitindo, no entanto, que
"só o fazem porque a própria lei lhes dá essa
possibilidade".
A explicação para o facto de os portugueses estarem a pagar
mais pelo «seguro contra todos os riscos", ao contrário do
que propalou o Governo, deu-a ainda Lino de carvalho.
"Anteriormente - esclareceu - as companhias de seguros não
eram obrigadas a proceder à desvalorização automática do
valor das viaturas. Só o eram no caso do segurado assim o
exigir. Nestes casos o novo prémio era todo calculado com base
no novo valor do carro e, consequentemente, descia o custo do
seguro. Agora, a lei - ou ingénua ou propositadamente - permite
a existência de duas componentes para o cálculo do preço final
do seguro: uma taxa para determinação do prémio de cobertura
de danos parciais (que são a maioria) que é calculada sempre
com base no valor da nova viatura, e uma outra taxa para
determinação do prémio de cobertura de perda total da viatura
que é a única que expressamente a lei determina que seja
calculada com base no valor comercial, isto é, tendo em conta a
desvalorização da viatura".
E prosseguiu: "Como as companhias de seguros não estão a
dormir - e a lei dá-lhes toda a latitude - encontraram aqui a
sua galinha dos ovos de ouro: a parte mais grossa do custo do
seguro (e da taxa de cálculo do prémio) incide sobre o valor da
viatura em novo. O que sobra - que é a parcela mais pequena em
taxa e em valor - é que vai incidir sobre o valor comercial
(desvalorizado) da viatura.
Em conclusão: "como simultaneamente as companhias
aproveitam para aumentar os prémios de modo a que a soma das
duas parcelas seja superior ao que se passava anteriormente, o
resultado é que os seguros, em vez da diminuição anunciada,
têm aumentos que, nalguns casos, se traduzem mesmo em aumentos
substanciais".
O exemplo concreto de como assim é, ou seja, de como os novos
prémios são mais elevados do que eram antes da lei, apesar das
tabelas de desvalorização, e de como a situação actual se
tornou num chorudo negócio para as seguradoras, deu-o ainda Lino
de Carvalho.
Citado foi o caso de um veículo com um ano de idade que,
recorde-se, sofre uma desvalorização de 24 por cento no seu
valor. Embora o segurado continue na prática a pagar o seguro
pelo valor da aquisição em novo (as tabelas de desvalorização
do capital seguro são mensais mas o cálculo do custo do seguro
é feito anualmente), caso haja um acidente, o valor da
indemnização por perda total do carro é o correspondente ao
valor desvalorizado da viatura.
Por outras palavras, como salientou Lino de Carvalho, "para
pagar às companhias de seguros os portugueses continuam a pagar
um prémio como se a viatura fosse nova. Para receber, recebem
pelo valor desvalorizado".
Não obstante o seu pedido para que o ministro Adjunto, José
Socrates, explique na Comissão de Economia toda esta embrulhada,
para o Grupo comunista "o primeiro-ministro não pode
fingir, como é seu costume, que não é nada com ele".
Tanto mais que, frisou Lino de Carvalho, "numa matéria
desta importância tem a estrita obrigação de explicar ao país
o que se está a passar".
Caso contrário, sublinhou, há que concluir que "tudo foi
preparado em conjunto entre as companhias de seguros e o
Governo", que "anda a fazer publicidade enganosa".