Afeganistão
ONU condena talibans


O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, na segunda-feira, um documento condenatório das práticas dos talibans, a milícia islâmica que controla dois terços do Afeganistão.

Numa declaração da presidência, a ONU manifestou-se «profundamente preocupada com a discriminação persistente contra as raparigas e as mulheres e as violações dos direitos humanos, bem como do direito humanitário internacional».
Os 15 membros do mais alto orgão das Nações Unidas «deploram o facto de as ingerências estrangeiras prosseguirem no Afeganistão sob a forma de entrega de armas» e lamentam o «apoio político e militar activo dado pelo exterior às facções» em luta.
Com a tomado do poder pelos talibans, a população afegã viu-se privada de muitos dos seus direitos. As mulheres são as principais visadas pela lei fundamentalista: não podem sair à rua se não forem acompanhadas por um homem da sua família, não podem trabalhar ou ser observadas por médicos, são obrigadas a usar túnicas que lhes tapam todo o corpo (vêem através de estreitos orifícios de renda) e que lhes dificultam os movimentos e praticamente as impedem de segurar nos próprios filhos.

Mas as leis talibans vão ao ponto de proibirem qualquer tipo de distração. Ninguém pode ouvir rádio ou ver televisão (entretanto extintas), ler um enorme número de livros ou simplesmente escutar música. Práticas medievais - caso das amputações como castigo por roubo - fazem parte dos preceitos na nova autoridade.

Num país semidestruído por guerras que se prolongam há 18 anos, com uma economia praticamente inexistente e um número elevadíssimo de viúvas e orfãos, pouco resta aos afegãos senão o caminho da ilegalidade. A sobrevivência - seja roubar para comer, seja o trabalho feminino - é, aos olhos dos talibans, um crime punível. Mas, para os afegãos, a alternativa não é menos dolorosa.


«Avante!» Nº 1271 - 9.Abril.98