Um novo impulso
na direcção certa

Por Francisco Lopes
Membro da Comissão Política do CC do PCP


Nos últimos tempos o PCP tem sido objecto de um tratamento nos órgãos de comunicação social, como há muito não se via. Depois de, a propósito das últimas eleições autárquicas, terem proferido proclamações arrasadoras, que apesar do insucesso, a manutenção no essencial da influência da CDU não consentia, é agora a vez de comentaristas, editorialistas, pecepólogos e figuras já conhecidas de outras situações, virem pronunciar-se sobre o PCP em relação com o novo impulso decidido na última reunião do CC.

O frenesim, as leituras parciais e tendenciosas são tais que se justifica a abordagem da questão, até porque há impulsos e impulsos.
Há quem procure fazer do novo impulso para o fortalecimento do PCP decidido na ultima reunião do Comité Central, não aquilo que levou o CC a decidi-lo, a superação de insuficiências e debilidades, o reforço da organização, intervenção e afirmação política do Partido, no quadro das conclusões do XV Congresso e da natureza, identidade, objectivos e ideais do PCP aí confirmados, mas um processo de transformação e descaracterização do Partido. E não só apreciam assim a reunião do CC como teorizam e insistem numa leitura e num processo que pretende fazer caminho para tal objectivo.

O PCP é um partido incómodo para os interesses dominantes no nosso país e no mundo, que assume a defesa dos interesses da classe operária, dos trabalhadores e de todas as camadas atingidas pela política de direita e pelo grande capital, cujos interesses e domínio crescente sobre a vida nacional não tem receio de afrontar. Um Partido que defende activamente os interesses da população numa atitude corajosa como ainda recentemente ficou demonstrado na iniciativa de denuncia e apelo ao protesto dos utentes contra o aumento dos telefones. Um Partido que está à frente das aspirações e das lutas dos trabalhadores, da juventude e do povo português. Um Partido que intervém nas autarquias, na Assembleia da República e em outras instituições na resistência a políticas negativas e na resolução dos problemas dos trabalhadores e do povo, na construção de um futuro melhor. Um Partido indispensável e insubstituível para uma alternativa democrática, para uma política de esquerda capaz de dar resposta aos problemas nacionais. Um Partido que integra a sua intervenção na luta mais ampla pela concretização de uma sociedade mais justa, uma sociedade livre da exploração e da opressão.

Há naturalmente quem veja com interesse, apoie e trabalhe, aliás há muitos anos, para dar um impulso ao PCP, de modo a que ele deixe de ser tudo isto que é. Para os interesses instalados, numa situação em que PS, PSD e CDS/PP convergem na mesma política, atrair o PCP ou neutralizá-lo seria criar o sistema político perfeito.

Não foi este o novo impulso decidido pelo CC e que os comunistas procuram concretizar no dia a dia da sua intervenção militante.

Quando dão um forte impulso à renovação e rejuvenescimento das organizações e estruturas partidárias, fazem-no no sentido de novas adesões, da essencial integração orgânica e responsabilização aos mais diversos níveis de jovens, numa maior atenção ao papel, acção e reforço da JCP, a promover simultaneamente com o aproveitamento harmonioso e dialéctico da experiência e capacidades de outras gerações de comunistas de modo a aproveitar o saber e a força do colectivo partidário, com a certeza de que todos aprendem com todos. E não na base de roturas importadas, de artificiais conflitos de gerações, do desperdício da contribuição ou da reforma política de militantes mais velhos. Os ideais e as convicções não se reformam e o Partido não só tem tudo a ganhar com o contributo de todos de acordo com as suas possibilidades como deve estimulá-lo.

Quando colocam a necessidade da acção para o reforço da organização e intervenção do Partido junto dos trabalhadores fazem-no porque o PCP é o partido da classe operária e de todos os trabalhadores e para o ser de facto tem de defender os seus interesses, tem de defrontando e ultrapassando múltiplos obstáculos intervir onde eles estão, viver os seus problemas, sentir as suas aspirações, trabalhar para a sua organização e esclarecimento, garantir a sua responsabilização aos diversos níveis da estrutura partidária, criar condições para que assumam das mais altas responsabilidades no plano social e político, vencendo tendências e valores dominantes na sociedade que tendem à sua marginalização e discriminação. Fazem-no porque grandes mutações sociais como a diminuição da população activa nos campos, a elevação do numero de trabalhadores dos serviços, a destruição de grandes empresas, a deslocalização das actividades industriais, um mais elevado nível de formação, introduzem alterações significativas, mas não só não acabam com a classe operária, como alargam o numero de assalariados. O mundo de hoje, este em que vivemos, é o mundo em que aumenta a exploração, em que se agravam as desigualdades e injustiças sociais, em que se processa uma profunda ofensiva do grande capital a escala nacional e internacional para pôr em causa direitos, em que os conflitos e luta de classes se intensificam. Luta em que intervêm sectores muito dinâmicos, mas em que pese todo o dinamismo do grande capital na defesa dos seus interesses e até por isso, é no dinamismo da classe operária e do conjunto dos trabalhadores, que inclui no nosso país uma elevada quantidade de jovens, que o Partido deve em primeiro lugar reforçar as suas raízes. É aí que se encontram as forças mais capazes de resistir, mais capazes de conquistar direitos e concretizar aspirações. Forças que são o esteio mais sólido da luta por uma alternativa democrática e por transformações sociais mais profundas a concretizar em associação e com a participação alargada da juventude e de outras camadas e sectores sociais vitimas da política de direita, nas quais o PCP tem que igualmente reforçar as suas raízes e de cujas aspirações é o intérprete mais coerente.

Quando se propõem elevar a militância, valorizar o papel do militante, associando a responsabilização de mais quadros não funcionários ao reforço do quadro de funcionários do Partido, rejeitando dicotomias e contraposições, a par do empenhamento para o reforço das organizações de base com um movimento geral e planificado de Assembleias das Organizações, visam no quadro dos princípios de funcionamento do Partido, que é preciso defender e valorizar, a continuação e aprofundamento de medidas para o fortalecimento do Partido Comunista Português, visam um partido mais forte para as batalhas de hoje e de amanhã.

É este e não outro o novo impulso que os comunistas se propõem dar ao seu partido. O PCP foi, é e será obra dos seus militantes, em profunda ligação com os trabalhadores e o povo português, que não deixarão de estar atentos, como sempre estiveram, nem deixarão de dar resposta, como sempre deram, àqueles que querem afastar o PCP dos seus objectivos, que gostariam de o ver neutralizado e enfraquecido e que mais uma vez se mostram particularmente activos.

Sejam quais forem as dificuldades e as campanhas de pressão ideológica que se nos coloquem, atentos, debatendo com frontalidade, o caminho é agir para o reforço do Partido Comunista Português, com a sua história ímpar, a sua natureza e identidade inconfundíveis, ligando-o cada vez mais aos trabalhadores, à juventude, ao povo, projectando-o para o futuro.

O PCP é a esquerda que faz a diferença, é a esquerda comunista.

O PCP tem um ideal e um projecto que se aperfeiçoa e enriquece com a experiência da vida. A intervenção e luta do PCP não se limita à proclamação do seu projecto, baseia-se na acção em torno dos problemas do quotidiano, das preocupações e aspirações dos trabalhadores, do povo português, inserida na proposta e luta por uma alternativa e na perspectiva de mais profundas transformações sociais.

Mas nenhum processo de transformação social é possível se não for afirmado, na sua configuração geral e na sua relação com as questões do quotidiano.

A dificuldade da concretização dos ideais e projecto do PCP num horizonte próximo, não pode ser motivo para os apagar, esquecer ou meter na gaveta.

Os ideais, projecto e valores do PCP, a sua afirmação convicta e permanente, o combate ao capitalismo cuja natureza e limites e evolução dos últimos tempos está a tornar mais clara, a luta por uma nova sociedade, constituem traços que identificam e diferenciam o PCP, são factores de atracção de largos sectores, particularmente da juventude e representam componentes fundamentais para a afirmação e o reforço do Partido.


«Avante!» Nº 1271 - 9.Abril.98