Pavões
Multicores
Do alto da sua condição de jornalista-tipo da nova ordem comunicacional, João Morgado Fernandes, editor da secção nacional do «Diário de Notícias», fulmina-me impiedosamente. O pretexto invocado para a violenta rajada que me é dirigida, situa-se na minha crónica "Liberdade de (Des)informação" aqui publicada há uma semana crónica na qual cometi o imperdoável crime de denunciar um caso concreto de manipulação jornalística. "Avestruzes vermelhas" é o título do disparo de J.M.F., um título à altura da peça produzida: com toda a originalidade que percorre o anticomunismo pateta dos tempos actuais e com a arrogância característica de quem usa (e sabe que usa) um poder que alia a uma considerável força a terrível "vantagem" de não ter sido eleito e não necessitar de sondagens de opinião (sérias ou manipuladas) para continuar poder
Como é hábito em situações similares, JMF
escapa-se à picadela da seringa no que toca ao essencial.
Incapaz de responder às questões colocadas - nomeadamente e em
resumo, que as sondagens são, cada vez mais, instrumentos de
influenciação do voto e que a referida sondagem publicada pelo
DN é disso exemplo flagrante - JMF socorre-se do arsenal do
blá-blá-blá sobre os comunistas e despeja parte da cassette
pirata dedicada ao tema. Ou seja: em vez de responder
frontalmente a uma crítica concreta e fundamentada, refugia-se
na confortável interpretação, subjectiva do que escrevi e
atribui-me as intenções, motivações e posturas que melhor
servem os seus interesses e objectivos. E fá-lo na espampanante
postura de pavão multicor, fingindo ter ideias próprias sobre a
matéria mas sabendo que não faz outra coisa que não seja
repetir estafados clichés, fingindo exprimir ideias novas mas
sabendo que está a repetir fórmulas iguais às que todos os
seus gémeos repetem diariamente.
"Continuar a culpar os outros pelos desaires próprios ou
fazer uma reflexão profunda sobre os erros cometidos" - eis
a pena a que JMF condena o PCP.
"Aspira a liderar o grupo das avestruzes" - eis a
sentença que contra mim profere.
Assim sendo, não lhe agradará saber que o PCP consciente das dificuldades que a situação internacional e nacional coloca a um partido com as suas características, continuará a procurar colectivamente, os caminhos capazes de conduzir à superação de parte dessas dificuldades, continuará fiel a si próprio e aos seus 77 anos de vida, de luta, de coerência, de dignidade, de firmeza, de princípios.
Quanto à minha condenação: intranquilize-se o editor da secção nacional do DN: estou tão longe de liderar o "grupo das avestruzes vermelhas" da sua cegueira, como ele está de liderar o grupo dos pavões multicores de que é parte integrante. José Casanova