O espectro
vivo...
Das abundantes - e em importantes aspectos
inverdadeiras - prosas dedicadas ao PCP nos últimos dias pela
comunicação social, dois aspectos merecem imediato comentário.
O primeiro consiste no evidente propósito de desviar a atenção
de uma importante iniciativa dos comunistas, de contribuição
para a afirmação de uma esquerda e de um projecto de esquerda
que suporte um novo rumo democrático para o nosso país , e de
conotá-la negativamente, através do recurso a cenário de
alegadas divisões e sensibilidades que existiriam no seio do
PCP.
O segundo é o apressado e interesseiro comentário emitido por
dirigentes do PS em ligação com esse cenário , quer afirmando
que "o que (lhes) interessa verdadeiramente é que o PCP
continue como está" e que o seu objectivo central é criar
condições para continuar a roubar-lhe votos até assegurar uma
maioria absoluta, quer indicando a sua preferência por uma
" renovação" dos comunistas talhada à medida das
conveniências da manutenção do poder por parte do PS.
Em registo convergente e tocado pelo mais negro pessimismo se
pronunciou igualmente um conhecido constitucionalista - quem sabe
se para se auto justificar da rapidez com que há uma década
passou de auto-proclamado "comunista democrático" para
a área do PS - ao prever que "o PCP vai continuar a
caminhar conformadamente para uma inexorável marginalização
política, reduzido a grandiloquentes exaltações políticas e
cada vez mais mesquinho número de seguidores".
Oportuno por isso afirmar e confirmar publicamente o
propósito do PCP não se deixar envolver em operações de
diversão e de não se distrair do rumo político e de
intervenção, que a si só e rejeitando qualquer
interferência exterior coube e cabe definir.
Que ninguém tenha dúvidas sobre a vontade dos comunistas
manterem uma afirmação clara da identidade e objectivos do seu
Partido. Dinamizarem e renovarem o seu trabalho com vista a
ampliar a sua influência na classe operária e nos
trabalhadores, na juventude, na sociedade portuguesa do nosso
tempo. Assumirem activamente o seu contributo para um movimento
de debate político no seio da esquerda. E não pouparem
esforços - sejam quais forem as dificuldades que possam surgir
pelo caminho - para a concretização de um novo impulso na
organização, intervenção e afirmação política do Partido,
nos termos e de acordo com as orientações aprovados pelo
Comité Central na sua reunião de 14 e 15 de Fevereiro, e para
cuja concretização todos os militantes estão chamados a
empenharem-se activamente.
O espectro do comunismo, que Marx de um modo tão magistral evocou na abertura do Manifesto, vai continuar certamente a inquietar, pelo século XXI fora e até à sua superação, a injusta desordem social vigente... Edgar Correia