Telecom
Utentes contra taxa de activação

— As razões de um protesto


As razões de um protesto é o tema central da carta entregue ao primeiro-ministro pela Comissão de Utentes Contra a Taxa de Activação e os Aumentos nos Telefones, quando já tinham sido recolhidas mais de 105.000 assinaturas de cidadãos por todo o país, numa petição entregue na Assembleia da República.

"Nada nos move que vá no sentido de pôr em causa a importância da PT na situação actual das Telecomunicações em Portugal e do papel que desempenhou no passado e tem de continuar a ter no futuro deste sector", sublinha o documento, passando a apresentar, "da forma mais concisa e concreta, as razões que nos assistem e explicar porque é que três milhões de famílias e muitas empresas estão a ser injustiçadas com a aplicação desta taxa de activação".

«Por tudo isto, nós, utentes da PT, não podemos deixar de criticar o governo português, pela viabilização de uma orientação que prejudica a prestação do Serviço Público e os utentes das Telecomunicações.

A PT atingiu, só em 1997, mais de 70 milhões de contos de lucro. Está baixando os seus custos de produção à custa de uma reestruturação do seu quadro de funcionários e aponta para uma descida à roda dos 25%, nos próximos anos, do número de funcionários efectivos, isto é, menos 5.000 trabalhadores.

Se a tudo isto somarmos 100 milhões de contos de investimentos anuais e 125 milhões de contos em impostos pagos ao estado nos anos recentes, se tivermos em conta que as novas tecnologias, nomeadamente as novas centrais digitais, permitem baixar os custos de todo o serviço telefónico, podemos concluir que os preços deviam baixar e muito! A própria novidade do sistema tarifário, em que os utentes se situam, grosso modo, em condições iguais independentemente da sua posição geográfica, traduz de facto a maior racionalidade e economia do sistema.

Afinal, para que serve o desenvolvimento e a indústria de telecomunicações? Para servir o homem ou para engordar os lucros das empresas privadas?».

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Projecto do PCP
apresentado hoje na AR

A Assembleia da República debate hoje o projecto de lei do PCP que prevê a revogaçao imediata da taxa de activaçao introduzida pela Portugal Telecom. Com este diploma, que preenche a agenda da sessao plenária, os deputados comunistas pretendem pôr termo a uma medida que consideram extremamente penalizadora para os utentes residenciais, já de si atingidos por um custo das telecomunicaçoes que é o mais elevado da Europa.

Nao pretendendo qualquer ajustamento geral das tarifas de telecomunicaçoes, nem se detendo sobre as situaçoes de injustiça criadas para as quais continua a exigir alteraçao, o projecto comunista visa, por conseguinte, tao-só, eliminar a aplicaçao da injusta taxa de activaçao.
Uma taxa que gerou desde a primeira hora um forte movimento de protesto popular e que é considerada pela bancada comunista, em certo sentido, como uma "tripla tarifaçao". Com efeito, lembram os deputados comunistas na nota preambular do seu diploma, existe já a assinatura mensal que garante o serviço, a que acresce o pagamento por impulso do preço de um tempo de comunicaçao, aos quais se junta agora a taxa de activaçao, incrementada sem que sequer tenha sido introduzida a tarifaçao ao segundo.

O que está em causa, pois, do ponto de vista do PCP, é a eliminaçao de uma taxa que se constituiu num pesado encargo para os orçamentos familiares dos clientes residenciais e que, nessa medida, nao deixa outra alternativa que nao seja a de exigir a sua revogaçao.
Tanto mais que, como é salientado no texto do diploma, o recente aumento das tarifas telefónicas, homologado pelo Governo, nao pode deixar de ser avaliado no contexto mais geral da realidade do nosso País. Nao pode ser dissociado, por exemplo, como se referiu atrás, do facto de Portugal ter um custo de telecomunicaçoes para clientes residenciais que é o mais elevado da Europa, como nao pode ser esquecido - também a título de exemplo - que a Portugal Telecom obteve em 1997 um lucro que rondou os 70 milhoes de contos.
Nota de relevo merece igualmente o facto de ao serviço público de telecomunicaçoes estar cometida uma importante funçao social, a qual, como nao pode deixar de ser, fica seriamente afectada como as alteraçoes agora introduzidas atingindo de modo particulat os utentes residenciais.

Constituído por cinco curtos artigos, o articulado do projecto de lei do PCP determina no seu artigo 3º que "é proibida a cobrança, pela entidade concessionária, aos utentes do serviço fixo de telefone, de qualquer taxa ou montante suplementar, mesmo se cobrada sob a forma de impulso, referente a comunicaçao telefónica, que nao resulte exclusivamente da sua duraçao".


«Avante!» Nº 1272 - 16.Abril.1998