Rússia
Duma rejeita Kirienko
Serguei Kirienko foi recusado para o cargo de primeiro-ministro da Rússia pela Duma, a câmara baixa do parlamento. Na sexta-feira, 186 deputados votaram contra a sua nomeação, 143 manifestaram-se a favor e seis abstiveram-se. Dos 409 deputados presentes, apenas 338 votaram.
Esta rejeição não foi uma surpresa para ninguém,
em especial para o presidente Boris Ieltsin, que desde a demissão do governo chefiado por
Viktor Chernomirdin - em 23 de Março - ameaça dissolver a Duma se o seu candidato não
for aceite.
Para o Partido Comunista russo, Ieltsin não pode apresentar o mesmo candidato mais do que
uma vez, evocando o texto da Lei Fundamental: «Após a rejeição por três vezes pela
Duma de candidatos ao posto de primeiro-ministro, o presidente da Federação da Rússia
nomeia o chefe do governo, dissolve a Duma e marca novas eleições».
Os comunistas sublinham o plural utilizado no texto quando se refere a «candidatos» e
prometem recorrer ao Tribunal Constitucional para saber se este facto impede, na verdade,
o presidente de apresentar o mesmo nome várias vezes.
Ieltsin não considera esta hipótese, até porque, como ele próprio disse num discurso
transmitido pela rádio no dia da votação, não tem «outro candidato».
E Ieltsin?
Guennadi Ziuganov, o líder comunista, considera que o
plano de Ieltsin consiste em dissolver a Duma, deixar o país com um governo provisório
durante um largo período de tempo e convocar em 1999 eleições legislativas (que,
conforme a lei, se devem realizar no fim deste ano) e presidenciais (previstas para o
Verão do ano 2000). Ziuganov defende que assim o presidente poderia manter-se no poder
durante um terceiro mandato.
Serguei Kirienko afirma-se com «um absoluto independente» que não obedece a ninguém
«excepto ao presidente». A sua posição ficou bem patente nas declarações que fez
após a rejeição do seu nome pela Duma. «Não serei conciliador no tocante à questão
da composição do governo. Tenho uma posição de princípio. Para mim, recuar não faz
qualquer sentido. Aceitar discutir não daria um bom governo», disse Kirienko.
Entretanto, os russos aguardam o desenrolar da situação política do país e acusam
Ieltsin de ser o responsável pelo estado da economia.
Na passada quinta-feira, realizou-se uma jornada de
protesto nacional contra os muitos problemas com que a população tem de lidar: os 15 por
cento de desemprego entre a população activa, os salários há muitos meses em atraso,
as baixíssimas pensões que os reformados recebem, a necessidade que os trabalhadores
sentem de arranjar mais do que um emprego para sustentarem a família.
«Ieltsin, não!», gritaram os manifestantes naquele dia, em diversos pontos da Rússia.
Uma expressão que os deputados não usam, mas que sustentam indirectamente.