Euroconfiança
Uma conhecida cadeia de hipermercados - cujo
proprietário se encontra, como tem sido público e notório,
entre os mais prendados pelo actual Governo - aproveitou o
europtimismo avassalador dos últimos dias para titular assim a
sua propaganda: "preços baixos também em Euro !".
Ficámos assim informados, por exemplo, que o quilograma da
batata nova é vendido por 0,48 do Euro, que idêntica quantidade
de goraz pequeno custa os olhos do Euro... desculpem, da cara -
10,71, nada menos - e que até o acesso a 75 centilitros de um
branco da Bairrada nos vai obrigar a dispensar 1,96 da nova e
preciosa moeda.
Como a inteligência é o bem que está mais bem distribuído por toda a gente e, felizmente, não depende da capacidade aquisitiva em qualquer hipermercado, é bom de ver que chegará o dia em que os portugueses passarão a avaliar os seus rendimentos - sejam eles os salários dos trabalhadores ou as prestações da Segurança Social - através do inevitável Euro e a poder compará-los de uma forma directa, sem estar a fazer o câmbio do escudo por outras moedas, com os valores que são recebidos nos outros dez países da União Europeia que também vão utilizar a moeda única.
Antecipemos a consciência da profunda
distância social que nos separa da generalidade dos países da
União Europeia e a compreensão do papel da acção
reivindicativa - como instrumento essencial para a modernização
sócio-económica das sociedades e para a promoção da equidade
- com dois factos simples e esclarecedores.
Noticia, por exemplo, o último Expresso, com base
num estudo da Comissão Europeia, que "Portugal faz parte do
grupo de países da União Europeia que menos dinheiro canalizou
para as despesas sociais em 1995". E que, "no período
em análise, a média comunitária consagrada pelos Estados
membros para despesas sociais é de 28.5 por cento do Produto
Interno Bruto (PIB), mas em Portugal as verbas representam apenas
21 por cento do PIB".
Referem também as estatísticas europeias (Eurostat),
relativamente a 1997, que o nível mensal dos salários mínimos
nacionais nos sete países da União Europeia onde existe tal
medida, varia entre os 334 ECU (a unidade monetária europeia que
vai ser substituída pelo Euro) em Portugal e, por exemplo, os
469 ECU em Espanha, os 968 ECU em Franca e os 1141 ECU no
Luxemburgo.
Quando se ouve o ministro da Educação afirmar, numa deslocação a uma escola do ensino básico, que o Euro vai "fazer parte dos programas em três áreas: História, Geografia e Matemática" - não há, pois, todas as razões para termos confiança no futuro? Edgar Correia