Grã-Bretanha
Cimeira do G8
manda liberalizar


Os chefes de Estado e de Governo dos sete países mais industrializados do mundo, acompanhados da Rússia, reuniram-se no passado fim-de-semana em Birmingham para analisar o estado do mundo. Feito o balanço, lamentaram os crescentes problemas que afectam o planeta e insistiram na 'receita' - aceleração da mundialização ultraliberal da economia.

Como de costume, não faltaram as fotos de «família» e as participações em iniciativas mediáticas, que este ano incluiram até a participação num concerto de rock e num final de futebol. Mas as manobras de diversão não chegaram para iludir a gravidade dos problemas a que o G8 não consegue dar resposta, nem sequer as divergências que grassam no seio da «família».

As questões económicas dominaram as atenções, como seria de se esperar.

Numa declaração divulgada na sexta-feira, o G7 (a Rússia ficou de fora) pediu ao FMI para «exprimir» publicamente «as suas eventuais preocupações» face aos países que não seguem uma «boa política económica», instando ao mesmo tempo os países mais pobres a acelerar a liberalização da sua economia em troca do que a respectiva dívida poderia ser «aligeirada».
O convite não é inocente. No início da semana começou em Genebra a segunda conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo alargamento interessa sobremaneira ao G8. Daí a insistência com que apelam para que «todos os países abram os seus mercados e resistam à tentação proteccionista», enquanto reafirmam o seu «forte empenho na continuação da liberalização das trocas e dos investimentos».

Conhecido o fosso que cada vez mais separa os países pobres do Sul dos países ricos do Norte, não é preciso ser-se especialista para perceber as «vantagens» do alargamento da OMC, sobretudo tendo em conta que aí se cozinham projectos como o Acordo Multilateral sobre o Investimento (AMI) ou o Novo Mercado Transatlântico (NTM), cujos objectivos confessos são a desregulamentação total de investimentos e trocas comerciais. O que interessará certamente muito ao G8 ou G7, conforme as ocasiões, mas representa um verdadeiro atentado aos trabalhadores e aos povos, em particular dos países pobres.
Para que não restem dúvidas, o documento do G8 vai mesmo ao ponto de afirmar «desejável» que a OCM «aborde novos domínios na óptica de uma ampla liberalização multilateral».


As boas intenções

Para que não se diga que os grandes do mundo só se interessam pelas questões do vil metal, o G8 também manifestou as suas «preocupações» com o «perigo acrescido» de proliferação de armas nucleares, a propósito das experiências realizadas pela Índia e a possibilidade de o Paquistão lhe seguir o exemplo. Fora de questão, evidentemente, esteve qualquer iniciativa para a destruição do potencial nuclear que a maioria do G8 detém, como insistentemente vem sendo proposto, há várias décadas... pela Índia.

A Indonésia não podia ser esquecida. Aliado de longa data do cartel dos ricos, o regime de Suharto «preocupa» o G8, que encoraja «as autoridade a reagir rapidamente», promovendo o diálogo que dê «resposta às aspirações do povo indonésio» e levando a cabo «as reformas necessárias». Para que não restem dúvidas quanto ao tipo de reformas, chama-se a atenção para a necessidade de aplicar os planos recomendados pelo FMI. Os mesmos planos que levaram ao aumento brutal dos bens de primeira necessidade e ao despedimentos de milhões de trabalhadores na Indonésia, como noutros países asiáticos.

No rol das «preocupações» consta também a situação que se vive no Médio Oriente. O G8, afirma o comunidado final, está «vivamente preocupado com o impasse em que se encontra o processo de paz». Ora aí está.


Cadeia humana pela anulação da dívida

Mais de cinquenta mil pessoas desfilaram sábado à volta de Birmingham, numa cadeia humana de dez quilómetros para exigir a anulação da dívida dos países do Sul. Na iniciativa participaram deputados de vários países, religiosos e inúmeras crianças, que para terem a certeza de que a sua mensagem seria ouvida pelo G8 produziram, às 15 horas em ponto e durante cinco minutos, uma autêntica algazarra com apitos, batuques e gritos.

Os promotores desta campanha, designada «Jubileu 2000», propõem-se continuar a desenvolver acções semelhantes até ao final do século para «pressionar os homens de dinheiro e coração de pedra que não compreendem os problemas dos países pobres e o que representa o fardo da sua dívida para com os países ricos».

A ministra britânica Clare Short agradeceu a iniciativa, que entende como um apelo «ao fim do egoísmo e da voracidade dos anos oitenta», comprometendo-se a entregar aos Chefes de Estado e de Governo do G8 a petição entregue pela directora da campanha, Ann Pettifor, assinada por 1.500.000 de pessoas, exigindo a anulação das dívidas dos países pobres.


«Avante!» Nº 1277 - 21.Maio.98