Indonésia
Oposição recua, populares avançam


A manifestação que ontem deveria trazer às ruas de Jacarta mais de um milhão de indonésios foi desconvocada.

Numa cidade subitamente invadida por mais de dezenas de milhar de efectivos das forças da ordem, com blindados e tanques a patrulharem as ruas e a montarem guarda ao palácio presidencial e ao Parlamento, a palavra de ordem de desmobilização representa muito mais do que um balde de água fria nas aspirações de um povo revoltado que pagou já com largas centenas de mortos o ter ousado reivindicar os seus mais elementares direitos. É o sinal de que nos gabinetes se cozinha já a 'mudança necessária' para que as coisas continuem a ser como são.

«Peço a todos os que apoiam as reformas para ficarem em suas casas.Sei que ficarão desapontados. Também eu estou desapontado. Mas peço-vos que rezem em vossas casas pelo êxito das reformas». As palavras são de Amien Rais, o dirigente muçulmano que nos últimos dias se assumiu como chefe da oposição indonésia, e representam uma viragem completa na posição que assumira menos de 24 horas antes.

Após o discurso de Suharto, na terça-feira, prometendo reformas e eleições antecipadas, Rais veio a público garantir que as manifestações de protesto continuariam até o «velho» se ir embora. O volte face é explicado pelo receio de um banho de sangue que poderia pôr em causa as reformas. Um argumento que não convenceu os estudantes e milhares de populares, que desde as primeiras horas de quarta-feira começaram a convergir para o Parlamento.

Segundo as últimas informações disponíveis no encerramento da nossa edição, enquanto Suharto reunia com a oposição, militares e membros do Golkar, nas rua o protesto engrossava, demonstrando não depender das posições de Rais.

Com militares e forças especiais «preparados para a guerra», Jacarta é uma cidade onde tudo pode acontecer.


«Avante!» Nº 1277 - 21.Maio.98