Exclusão social em debate na Madeira
Por
uma Cidade de inclusão social
"Que podemos fazer para a construção de uma Cidade sem zonas de exclusão? Qual o nosso contributo para que se possa criar uma Cidade livre e democrática?". Estas as grandes questões em debate em encontro sobre a exclusão social, realizado na Madeira por iniciativa da CDU.
"Causas da
exclusão social", foi o tema de um encontro promovido
pela CDU que decorreu, sábado passado, numa unidade hoteleira do
Funchal.
Este encontro - que se enquadra no projecto político da
CDU/Madeira, "Nova Política, Novo Desenvolvimento",
que visa a definição de outras prioridades para o
desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira, através da
apresentação de novas orientações e de novas propostas - teve
como finalidade uma análise, em termos muito gerais, das causas
da exclusão social, e culminou uma semana de trabalho por parte
da CDU e do seu grupo Parlamentar na Assembleia Legislativa
Regional.
A iniciativa contou
com a participação do sociólogo Moita Flores, ex-membro da
Polícia Judiciária, que sublinhou o papel da droga na exclusão
social, instalando barreiras, preconceitos e estigmas na
sociedade e desencadeando boa parte da criminalidade com que
somos confrontados no nosso dia-a-dia.
Nas palavras de Moita Flores que sublinhou que só um
combate baseado no diálogo, corajoso e aberto, sem
manipulações político-ideológicas, terá sucesso - "é
mais fácil introduzir um pacote de droga na cadeia, do que um
farnel na Expo 98".
Tópicos de um debate
"Para além do
lado mais visível da exclusão social, existem outras zonas de
exclusão para onde são relegados grupos sociais, povos e
culturas", afirma-se em documento distribuído no encontro,
em que são sucintamente abordadas algumas grandes questões,
menos evidentes, ligadas à exclusão social.
"Os fenómenos da exclusão social decorrem de opções de
desenvolvimento, baseadas, tantas vezes, num modelo de
concorrência e competição, atendendo em exclusivo ao livre
jogo do mercado, onde mais se fortalecem os fortes e mais
enfraquecem os fracos. os grupos sociais mais débeis ficam
impedidos de terem um verdadeiro acesso à Saúde, Educação,
Habitação, e à participação política".
Uma realidade a que outras se somam. "Para além do nascimento
dos excluídos, a Cidade fomenta a exclusão do
desvio". E "são as estruturas que servem de
suporte à organização global quem produz um complexo movimento
de relações sociais que obrigam á exclusão. Remetem para as
margens ou para a marginalidade as minorias sociais, as
expressões culturais diferenciadas, os menores, o diferente".
Com base neste ponto de partida, o debate desenvolveu-se em torno
dos vários diferentes factores que tendem a agravar a exclusão
social e a questão fundamental Como promover novas
formas de intervenção social? Por onde passa a construção de
uma Cidade de inclusão social? Quais as nossas propostas de
mudança social?
De entre os factores de exclusão abordados, mereceram
destaque questões como os "bairros sociais" como zonas
de exclusão, a sua crescente "guethização", os
modelos de construção urbana como geradores de formas de
exclusão social, os problemas da toxicodependência que levam a
novos percursos de delinquência, os novos factores que tendem a
criminalizar a pobreza e a exclusão social.
Funchal, cidade solidária
No debate agora
realizado, foi relembrado o projecto da CDU, divulgado no Fórum
Social de Novembro de 1997, que parte da urgência de uma
mudança, a urgência de contrariar a política elitista que
impera na Cidade.
No documento então aprovado, a CDU avançou com um significativo
conjunto de propostas: a definição de uma política global de
intervenção social; criação de um Departamento de Política
Social e de uma Comissão Municipal para as questões educativas
e a integração social; criação de um Pelouro de Intervenção
Social; uma Carta Social da Cidade; a criação de um Conselho
Municipal para os Idosos e de um Conselho Municipal para as
Pessoas Portadoras de Deficiência; criação do Provedor da
Criança; apoio á Comissão de Protecção de Menores; criação
de uma Rede Social de Apoio ao Idoso; projectos de prevenção da
toxicodependência; a organização de um espaço de acolhimento
para os sem-abrigo e o fornecimento de refeições completas
todos os dias da semana, porque os pobres também comem ao
domingo; uma outra política de habitação e de realojamento
social; a recuperação e legalização das áreas urbanas de
origem ilegal; Promover programas socio-educativos de apoio
escolar; projectos de prevenção da delinquência secundária;
criação de bibliotecas.
Propostas que se inserem numa perspectiva de prioridade
absoluta às questões sociais.