Crónica do
Nordeste
De
Aldeadávila a Lagoaça
muita gente esteve ausente ...
Atrás de tempos, tempos vêm ...
Primeiro foi o Governo Socialista Espanhol de Filipe Gonzales,
por volta de 1997, agora, é com o Governo do Partido Popular de
Aznar. Ambos pretendem instalar junto à fronteira portuguesa, em
Àvila de la Ribera, um cemitério de resíduos nucleares.
A luta das
populações derrotou as pretensões dos socialistas espanhóis
será novamente a luta popular que frustará os objectivos
do Governo conservador de Aznar.
Entretanto, há que dizer com frontalidade que, pairam sobre o
Nordeste Transmontano e a bacia do Douro ameaças que não nos
podem deixar descansados. Estamos a falar do dito cemitério, mas
também da construção da Central Nuclear de Sayago, pretensão
não completamente abandonada pelo Governo espanhol (já existem
obras de construção civil no local) e, por último, do
conhecido Plano Hidrológico Espanhol, que visa reduzir
significativamente os caudais dos rios Tuela, Rabaçal e Douro.
São três questões da maior importância e do foro
internacional, dado envolverem dois países soberanos, Portugal e
a Espanha.
Perante esta realidade, que tem feito o Governo português para
defender os interesses do nosso país? Até temos um Ministério
do Ambiente! Só que infelizmente o que se verifica é que pouco
ou nada tem feito. É triste mas é verdade.
Aldeadávila volta às primeiras páginas precisamente no momento
em que a Ministra do Ambiente e o Secretário de Estado dos
Recursos Naturais se encontravam em visita ao concelho de Torre
de Moncorvo. Perante as perguntas colocadas pela comunicação
social, estes "ilustres" governantes disseram que não
tinham informação suficiente para se pronunciar. Que
informação é que precisariam para repudiar frontalmente a
instalação do cemitério nuclear às portas do seu país?
Se o Governo português tivesse uma política de ambiente, um
plano hidrológico nacional e um plano estratégico de
desenvolvimento para Trás-os-Montes, certamente Elisa Ferreira e
Ricardo Magalhães teriam informação suficiente e não seria
necessário o estudo de impacte ambiental que a Srª Ministra
falava.
Nós estivemos em Aldeadávila no dia 26 de Abril de 1998 e
comparecemos novamente em Lagoaça no dia 17 de Maio de 1998,
pela simples razão de que não hesitamos na defesa da nossa
região e do nosso país.
Nós tomámos a iniciativa de propor aos deputados Europeus
Joaquim Miranda e Honório Novo, que questionassem a Comissão
Europeia e o Conselho da Europa, sobre o que pensam nesta
matéria. Os mesmos deputados que, em 1987, tomaram idêntica
iniciativa que permitiu nessa altura que a União Europeia não
financiasse o projecto.
O que nós não entendemos é a ausência de alguns, na defesa
dos interesses da região. Os milhares de manifestantes presentes
em Lagoaça vaiaram e assobiaram os 4 deputados eleitos pelo
distrito por não terem comparecido, os mesmos deputados que
normalmente não estão onde há problemas para resolver,
lembremo-nos das empresas Grunig e Mirandum ou da situação mais
recente de Argozelo. Estes assobios e vaias não haja dúvida que
foram muito oportunos.
Mas, também, estranhamos a ausência do Governador Civil que,
ainda na recente campanha eleitoral aparecia em todo o lado
angariando "votos" para o "seu" partido
até teve tempo para ir votar pela JAE na Comissão
Regional de Turismo. Onde estava o "amigo" Secretário
de Estado?
Não compreendemos, de facto, certas ausências e delas os
cidadãos terão de tirar as devidas ilações.
Só se deve dar poder a quem o merece e a quem nos defende.
Se for necessário voltaremos às margens agrestes e belas do
Douro, seja em Aldeadávila ou em Lagoaça, porque a liberdade
conquista-se. José Brinquete