Com o apoio do PCFR
Mineiros russos querem controlo operário


Com os salários em atraso desde Setembro do ano passado, os mineiros russos fizeram ouvir a sua voz em todo o país e no mundo.

Ocupando durante dez dias linhas de comboios de várias zonas da Sibéria, os mineiros reivindicam o pagamento dos seus ordenados e exigem o estabelecimento do controlo operário sobre a actividade financeira nos ramos das indústrias extrativas de carvão.
No sábado, os mineiros chegaram a acordo com o vice-primeiro-ministro Oleg Syssouiev, libertando as vias ferroviárias. A Sibéria estava isolada: os comboios de mercadorias estavam impedidos de passar e de abastecer a região de alimentos, matérias-primas e combustíveis, bem como o Expresso do Oriente.
Outro vice-primeiro-ministro, Boris Nemtsov, pediu aos trabalhadores «para compreenderem humanamente o governo e ajudarem-no», algo que eles nunca receberam das autoridades.
Na região de Kemerovo foi decretado o estado de emergência, na semana passada. «A instauração do estado de emergência não significa a aplicação de medidas de força contra os grevistas. Isto está categoricamente excluído. O objectivo maior destas medidas é garantir o funcionamento vital da região», afirmou o governador.
A dívida ascende a 120 milhões de contos, mas para Boris Ieltsin parece ser uma quantia irrisória. «Há atrasos, obviamente, mas eles que não se queixem», disse o presidente na semana passada.
Entretanto, no dia 20, 177 deputados assinaram uma moção pela demissão de Boris Ieltsin, acusando-o de «crimes contra o país e o povo».


Apoio do Partido Comunista

O Comité Central e o Grupo Parlamentar do Partido Comunista da Federação Russa manfestaram recentemente a sua total solidariedade com «todos os trabalhadores que ultrapassaram ilusões e enganos passados e começam a agir em defesa dos seus legítimos direitos e interesses»: mineiros, professores, estudantes, empregados das indústrias de defesa, etc.
Os comunistas russos afirmam o seu apoio à exigência dos mineiros de ser estabelecido o controlo operário sobre as indústrias de carvão, acrescentando que os seus deputados estão a fazer todo o possível para assegurar uma base legislativa para esta iniciativa. A medida é vista como «o único meio de pôr fim aos intermediários especuladores aos níveis federal e regional».
Para o PCFR, o crescimento das manifestações populares contra as medidas económicas, os salários em atraso e a quebra dos direitos sociais é fruto do sistema vigente, «que demonstra total desprezo pelo importantíssimo direito que todos os homens têm de viverem uma vida digna em qualquer região do seu país».
«A política conduzida pelo governo leva os trabalhadores e as suas famílias a viverem numa situação de miséria e de fome. Levadas ao desespero, as pessoas passam acções em cada vez maiores proporções», lê-se num documento enviado à imprensa internacional.
«As vias férreas estão cortadas. As aulas estão suspensas nas escolas, universidades e institutos. Operários e empregados participam em massa em greves da fome. Há uma grande indignação contra aqueles que acumulam grandes fortunas à custa da política de reformas», acrescentam os comunistas.
Na sua opinião, «a presente agudização da crise social e política e a intensificação das acções de trabalhadores em todas as regiões da Rússia provam que a farsa política de renovação e de rejuvenescimento do governo está a sofrer um fracasso inédito».
Isto, porque «o novo governo demonstra claramente a sua total incapacidade para gerir os pacotes estatais de acções, garantir o pagamento de dívidas multimilionárias e de administrar com competência a economia».
O PCFR acusa ainda o poder executivo - «submetido à corrupção» - de não ser capaz de «tomar medidas práticas para conter os intermediários especulantes que sugam as reservas financeiras do país».


«Avante!» Nº 1278 - 28.Maio.98