Os
intelectuais,
o reforço do PCP e a alternativa de esquerda
A 3ª Assembleia do Sector Intelectual de Lisboa realiza-se no próximo fim de semana. É uma Assembleia voltada para a consolidação das orientações fundamentais definidas na 2ª Assembleia (realizada em Junho de 1995), para o alargamento da intervenção do Sector em áreas fundamentais, para ultrapassar deficiências de trabalho, para o reforço do contributo dos intelectuais comunistas para um novo impulso na organização, intervenção e afirmação política do PCP.
A anterior
Assembleia, que reconstituiu o Sector Intelectual, foi um
acontecimento excepcional, em circunstâncias excepcionais. Abriu
uma mais larga perspectiva orgânica, de linhas de trabalho e,
sobretudo, das próprias áreas de intervenção e da
caracterização do grupo social dos intelectuais: um grupo
social "muito diferenciado, que integra indivíduos
caracterizados por uma formação de nível tendencialmente
superior, por um trabalho predominantemente intelectual, exercido
nas diferentes esferas da vida produtiva e nos diferentes campos
da cultura", heterogéneo do ponto de vista de classe e
" quanto às condições de trabalho, ao estatuto
hierárquico e remuneratório, e à distribuição no seu
interior das funções de concepção, direcção e
execução". Do mesmo modo se confirmam as tendências
identificadas para o crescimento das profissões intelectuais e
para o aumento do seu peso relativo no conjunto da população
activa, e o simultâneo crescimento da taxa de assalariamento
entre os intelectuais. Ultrapassando já largamente os 500.000,
os intelectuais são massa, e massa assalariada.
Alargou-se, desde a 2ª Assembleia, um trabalho político
essencialmente assente no reconhecimento de que existe, ao longo
da história do PCP, um forte processo de atracção e adesão de
intelectuais.
Três anos de intensa actividade
As grandes linhas de
afirmação do Sector e do Partido, de abertura, de iniciativa,
adoptadas pela 2ª Assembleia mantêm-se como orientações
essenciais que os dois documentos apresentados à 3ª Assembleia
o Relatório de Actividade da Direcção e a Proposta de
Resolução Política repercutem de forma complementar.
O Relatório de Actividade da Direcção, relativo aos 3 anos
decorridos desde a 2ª Assembleia, é entendido como "um
documento fundamentalmente político", um balanço político
do "desenvolvimento de linhas de trabalho e orientações,
acertos e desacertos, de progressos e retrocessos, objectivos e
tarefas realizadas". Ao longo de trinta páginas retrata, em
síntese, o quadro político geral, as grandes orientações, as
iniciativas e linhas de trabalho desenvolvidas, os êxitos
(alguns dos quais excepcionalmente significativos), e as
insuficiências (algumas das quais a exigirem urgente
correcção). É um muito útil e claro instrumento de trabalho,
um balanço que aponta para o futuro, e para um valioso
património de realização política, num quadro de grande
diversidade de frentes e níveis de intervenção. O Sector
Intelectual, com a reorganização decidida pela Direcção em
Julho de 1996 passou a integrar 13 sectores e áreas de trabalho:
Ambiente; Artes do Espectáculo; Artistas Plásticos, Arquitectos
e Designers; Ciências Sociais; Cinema; Comunicação Social;
Cultura Literária; Ensino Superior; Juristas; Novos Quadros;
Património Cultural e Natural; Professores; Quadros Técnicos.
Tratando-se de frentes muito diversas em objectivos, meios e
força orgânica, existe para a sua grande maioria um balanço
positivo de intervenção e trabalho, com grande destaque, no
plano social, para a intervenção no movimento sindical docente,
no plano político e cultural, para o grande número,
regularidade de realização, diversidade, participação e
abertura conseguido num vasto leque de iniciativas e
realizações, para a criação do Caderno Vermelho, e
para o aumento do contributo e da intervenção do Sector nas
tarefas e acções gerais do Partido; no plano da direcção e
organização, para os claros progressos na iniciativa, no
reforço orgânico e no rejuvenescimento verificados em alguns
sectores, no grande acréscimo de responsabilização de quadros
jovens, na consolidação da Direcção e do trabalho de
direcção.
Um projecto de esquerda e de poder
A proposta de
Resolução Política apresentada à Assembleia incorpora este
vasto património de trabalho no quadro das orientações do XV
Congresso e da Resolução do Comité Central "Por um novo
impulso na organização, intervenção e afirmação política
do Partido", e aponta grandes orientações estratégicas e
prioridades. Procura definir pólos essenciais de confronto
político-ideológico, e os consensos democráticos partilháveis
nos termos das contradições da sociedade actual, e em relação
aos quais os intelectuais são chamados a intervir nas suas
esferas próprias de actividade, nomeadamente em torno da luta
por uma democracia inteira, simultaneamente política,
económica, social e cultural, contra os processos de distorção
e manipulação e degradação da democracia e da actividade
política, da imposição do consenso e do consentimento num
quadro de alternância sem alternativa; da luta pela defesa e
ampliação dos direitos sociais e culturais, por uma cidadania
solidária; de defesa da democratização do acesso à fruição
e criação culturais como factor de emancipação social e
individual. Aponta grandes orientações de intervenção no
plano da luta política e das ideias, visando potenciar a
contribuição específica e militante do Sector na actividade
geral do Partido, nomeadamente nas batalhas políticas que se
aproximam (referendos, eleições), nas comemorações do 25º
Aniversário do 25 de Abril, no desenvolvimento da iniciativa
"Portugal 2000 Debates para uma política de
esquerda".
A proposta de resolução política sublinha que na uma maior
participação luta política e ideológica exige um grande
reforço do debate e do estudo no interior da organização e,
simultaneamente, uma grande iniciativa e abertura no
estabelecimento de contactos, de auscultação de opiniões, de
divulgação das posições do Partido, que deve ser entendida
como uma tarefa em desenvolvimento, exigindo um trabalho de
direcção específico na sua planificação, acompanhamento e
controle de execução.
É apontada a necessidade de um novo acréscimo de intervenção
na luta social e na área social e associativa, acompanhando e
dinamizando o potencial organizativo e, em muitos casos, de
massas, existente, e simultaneamente prestando uma nova atenção
às estruturas e movimentos informais e efémeros, e uma nova
iniciativa a grandes movimentos sociais, cívicos, e de opinião.
É reafirmada a grande prioridade à intervenção nas
Universidades e no Politécnico, a possibilidade e necessidade de
um novo e confiante impulso da intervenção nesses importantes
pólos de concentração de intelectuais, de produção
intelectual e de actividade intelectual, em defesa de uma nova
política para o Ensino Superior que reforce o ensino público
sobre os três pilares fundamentais da autonomia dos
estabelecimentos e do sistema, do financiamento e da avaliação;
e pela ligação das Universidades à sociedade, contra o seu
forçado fechamento, desaproveitamento ou sub-aproveitamento
social da sua intensa produção intelectual, pela procura de
melhores respostas para os novos desafios que hoje se colocam no
plano do ensino, da investigação e da difusão cultural.
O projecto de Resolução Política aponta para o prosseguimento
e o reforço de uma linha que valoriza tanto a dimensão cultural
do trabalho político do Sector, como a dimensão política do
seu trabalho cultural nas diferentes formas e espaços que vem
assumindo, tanto em iniciativas próprias e de dinamização do
Vitória Espaço Cultural, como na Festa do Avante!.
Reconhecendo simultaneamente o reforço orgânico e de
intervenção do Sector, e as deficiências e insuficiências de
trabalho que é necessário ultrapassar, nomeadamente no que diz
respeito à área dos quadros técnicos em geral, para os quais
não apenas é necessário o trabalho do sector e regional como
é indispensável a clarificação de linhas de orientação
geral do Partido. são apontadas linhas essenciais a prosseguir,
na elevação da militância, da responsabilidade e a iniciativa
individual; no aprofundamento do trabalho colectivo; no
recrutamento; na vida política das organizações; no debate
colectivo; na atribuição de tarefas e na justa valorização do
contributo de cada militante; no trabalho de fundos.
O Projecto de Resolução Política reafirma o empenho dos
intelectuais comunistas da ORL na luta pela configuração e
construção de um grande projecto de esquerda e de poder: a
esquerda de que os comunistas são portadores "implica
sempre a determinação e integração de novas necessidades,
direitos e aspirações geradas pelo desenvolvimento social e
histórico. E implica, ao mesmo tempo, o compromisso inalienável
em favor dos explorados, dos oprimidos e humilhados, a ligação
orgânica ao movimento operário; a luta por estádios superiores
de integração das várias formas do trabalho humano; a luta que
mantém unidos os valores da liberdade e da igualdade, da
democracia e da justiça; a luta pelo Socialismo e pelo
Comunismo".
São estas algumas das questões essenciais que irão estar em
debate no próximo fim de semana. A Assembleia irá ainda eleger
a nova Direcção.