Em causa favorecimento de grupos económicos
Parlamento
vota pedido de inquérito do PCP
Os deputados votam hoje o pedido de inquérito parlamentar apresentado pelo PCP aos actos dos Governos do PS e PSD envolvendo o Estado e grupos económicos. Na sequência do debate realizado precisamente há uma semana, tudo o indica, a iniciativa parlamentar comunista deverá ser viabilizada.
Com efeito, em
princípio, nada faz prever o contrário, a avaliar pelas
posições assumidas pelas restantes bancadas. De todas elas foi
visível alguma abertura, resultando claro o propósito de não
assumirem o ónus de chumbar uma iniciativa cujo fim é
clarificar um quadro de relacionamento entre o Estado e os grupos
económicos que deve ser pautado pela máxima transparência.
Octávio Teixeira, presidente do Grupo comunista, está
igualmente confiante na passagem do diploma. Em declarações ao
"Avante!", no início da semana, não escondeu o seu
optimismo, argumentando, a este respeito, com o facto de ser
"politicamente incompreensível" qualquer outro
desfecho, depois dos desenvolvimentos operados em torno desta
matéria.
É que, para a bancada comunista - e foi esta, aliás, a
principal motivação para a sua iniciativa - o que está em
causa, hoje como sempre, é a "defesa da subordinação do
poder económico ao poder político", a "total
transparência nas relações entre o Estado e o poder
económico", o "repúdio de qualquer promiscuidade
entre a governação do País e os interesses particulares de
quaisquer grupos económicos".
Invocando princípios pelos quais o PCP sempre se pautou, como
assinalou Octávio Teixeira no debate, o que está em causa,
pois, não são "os nomes dos grupos económicos ou a
coloração política dos governos", mas sim a
"seriedade e transparência de processos" que a todos
é exigível.
Nesta medida, ao avançar com o seu pedido de inquérito tendo
designadamente como objecto casos relacionados com o processo de
privatizações levado a cabo pelos governos laranja, para o PCP,
não se trata de "repartir as culpas entre o PS e o
PSD" e muito menos branquear os obscuros casos que envolvem
o Governo PS, como chegou a argumentar a bancada do PSD, mas,
tão só, permitir que a Assembleia da República exerça o seu
dever de fiscalização política, isto é, fiscalize "tudo
o que houver para ser clarificado".
Explicadas por
Octávio Teixeira foram ainda as razões que levaram a sua
bancada a seleccionar apenas um número relativamente restrito de
casos para serem objecto de inquérito - "fiscalizar todos
os casos... seria prolongar excessivamente o tempo necessário
para a comissão de inquérito levar até ao fim o seu
mandato", sustentou - , bem como os critérios que
presidiram à sua escolha. Quanto a estes, observou, foram
levadas em linha de conta as declarações do presidente do Grupo
SONAE, que, em «comunicado pessoal» garantiu que, quanto a
prestar declarações na comissão de inquérito, «será com
todo o gosto que o farei em geral e com particular deleite se
quisermos comparar os vários negócios ou 'negociatas' de tal
período [governação do PSD], e também o comportamento dos
vários actores nas privatizações do Totta, JN/DN, Espírito
Santo, OPA BCP/BPA...»
"São casos paradigmáticos, e têm a vantagem de à partida
haver quem, conhecedor directo dos meandros dos mesmos, se
proponha coperar enpenhadamente com a comissão de
inquérito", esclareceu Octávio Teixeira, que quer ver
igualmente analisados os casos Tranquilidade e
Mundial-Confiança, por considerar que em relação a qualquer
deles, na altura da sua privatização, foram os próprios
beneficados que fizeram "declarações sobre a
sub-avaliação efectiva dos respectivos preços de venda".