Eu voto Sim



A defesa da saúde e da dignidade das mulheres, o direito a uma maternidade consciente e responsável, o direito da criança a ser desejada e amada, a defesa dos direitos humanos fundamentais são linhas que caracterizam a posição do PCP e de quantos defendem a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Os depoimentos que, até este momento, foram recolhidos pelo «Avante!» assim o comprovam.





«Defendo o SIM à despenalização do aborto por respeito pelas mulheres portuguesas, pela sua consciência, pela sua responsabilidade, pelas suas opções.
Defendo o SIM porque defendo a vida com direitos, com qualidade e dignidade.
Defendo o SIM à despenalização do aborto por uma questão de justiça social, porque defendo a igualdade de oportunidades e porque a lei hoje em vigor, além de não evitar que se façam abortos, é socialmente injusta, penaliza e discrimina fundamentalmente as mulheres de mais fracos recursos económicos. São estas que, não conseguinto pagar uma boa clínica ou ir ao estrangeiro, interrompem a gravidez com riscos graves para a saúde e em condições de grande insegurança.
O SIM à despenalização do aborto representa um avanço da civilização e da democracia. Um passo na concretização das Resoluções aprovadas nas Conferências do Cairo e de Pequim.
Defendo o SIM porque o facto de se deixar de considerar criminosa uma mulher que, em último recurso e por falta de condições económicas e sociais, tem de interromper uma gravidez, representa mais um passo no processo emancipador das mulheres e na humanização da sociedade.»

a) Adelaide Pereira
Comité Central do PCP e Secretariado do Movimento Tolerância


«Sempre nos protegeram do «incómodo» de termos que ter opinião fundamentada. Sempre nos têm motivado mais a sentir do que a pensar a razão objectiva das coisas. Se estimulados, tanto somos capazes do mais elevado sentimento de solidariedade e entreajuda como de integrar uma multidão em fúria disposta ao linchamento. E, sem nos darmos conta, fomo-nos habituando a (re)agir a comando, sobretudo, da emotividade.
O que se tem lido e aquilo a que se tem assistido mostra como a emoção pode ser manipulada de forma cruel para baralhar a razão.
Para que fique claro: no próximo referendo sobre a IVG não vamos referendar a vida, vamos referendar a lei. Uma lei que reconhece à mulher o direito de optar pela interrupção da gravidez em condições de segurança e de dignidade.
Em defesa da tolerância contra a penalização, da seriedade contra a hipocrisia, da dignidade contra a humilhação, vou votar SIM no referendo.
Pela maternidade desejada e responsável, pela qualidade da vida e dos afectos, pelo direito das mulheres à dignidade e ao respeito, conscientemente vou votar SIM no referendo.

a) Amélia Sobral Ornelas
Assistente social na Câmara Municipal da Amadora


«Vou votar SIM à IVG porque
1. A liberdade individual é um direito inegável e imprescindível, numa sociedade democrática.
2. O aborto clandestino é uma realidade social indesmentível que atinge preferencialmente os mais desprotegidos e desfavorecidos na sociedade, como tal é na grande maioria das vezes realizado por pessoas sem escrúpulos, tecnicamente não avalizadas, sem a accepcia necessária, tendo como fim o lucro fácil e não tendo a devida consideração pela pessoa que está à sua frente.
3. Os métodos anticonceptivos não são 100% eficazes.
4. Em cada indivíduo podem existir motivações difíceis de avaliar (tanto por si como pelo médico) e que podem alterar substancialmente o uso e eficácia de qualquer método anticonceptivo.
5. A mulher e não a equipa multidisciplinar de saúde (que não existe actualmente nos Centros de Saúde) deve ser protagonista, devendo ser fomentada a sua participação activa no controlo da mesma.»

a) Carlos Almeida
Médico


«Sou pela vida com qualidade e luto diariamente, tanto no trabalho como na família ou nas organizações que milito, para a alcançar.
Vale a pena viver, vale a pena lutar. Vale a pena ser solidária.
E o ser solidária é o estar contra o aborto clandestino. Porque sou mãe e felizmente nunca fiz nenhum aborto, tive acesso ao planeamento familiar e os métodos contraceptivos que usei resultaram.
Por isto tudo sou pela despenalização do aborto clandestino.
No próximo dia 28 vou Votar SIM.»

a) Luísa Vitorino
Técnica Superior Especialista na Portugal Telecom, Membro do Secretariado Nacional do MDM


«Votarei a favor da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez porque considero que a manutenção da incriminação das mulheres que praticam o aborto é absurda - porque ineficaz e injusta - e profundamente hipócrita.
A mulher é a principal vítima de um aborto. A clandestinidade do aborto suscita medos e receios nas mulheres e favorece o florescimento de um negócio altamente lucrativo. Na maioria dos casos é praticado em deficientes condições de salubridade e saúde, nas pessoas não qualificadas, muitas vezes trazendo consigo disfunções permanentes para as mulheres e mesmo a morte. Além dos dramas psicológicos, dos sentimentos de culpa que persistem para toda a vida.
Os dados existentes sobre o aborto em Portugal são meras estimativas, mas alguns números são bem reais: mais de 10 mil mulheres deram entrada nos hospitais públicos com complicações decorrentes do aborto clandestino e esta é a segunda causa de morte em Portugal.
Não deixa de espantar que certas individualidades no nosso país que dizem defender o direito à vida, sejam os grandes protagonistas e/ou defensores da economia de mercado e das práticas económicas neo-liberais.»

a) Manuela Pires
Jurista


«No dia 28 de Junho voto SIM à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Voto SIM porque mulher nenhuma deve ser presa por ter decidido abortar. Voto SIM porque um aborto legal é seguro para a mulher. Voto SIM porque é injusto e hipócrita que uma minoria que se julga investida de algum género de monopólio da moral condene à clandestinidade quem faz escolhas diferentes das suas. Voto SIM porque não quero sacrificar gerações enquanto o planeamento familiar não tem cobertura nacional. Voto SIM porque mesmo os métodos contraceptivos mais seguros podem falhar. Voto SIM porque a maternidade e a paternidade são actos de vontade, de amor, conscientes, e não os posso imaginar como resultado de uma gravidez precoce ou indesejada. Voto SIM porque o aborto é um último recurso mas há dezenas de milhares de mulheres que têm de o usar, e continuarão a fazê-lo queiramos ou não. Voto SIM porque há quem fique estéril e há quem morra no meu país. Voto SIM porque o aborto clandestino é a primeira causa de morte materna de adolescentes. Voto SIM porque despenalizar não obriga ninguém a abortar e permite a quem o escolheu fazê-lo nas melhores condições.»

a) Margarida Botelho
Estudante do Ensino Superior


«Sou pelo SIM porque sou pela defesa da vida e da saúde das mulheres.
Sou pelo SIM porque digo Não ao aborto clandestino.
Sou pelo SIM porque nenhum planeamento familiar é totalmente seguro.
Sou pelo SIM porque defendo o direito a viver a sexualidade com alegria, sem situações dramáticas.
Sou pelo SIM porque a lei em vigor não satisfaz, não contém ainda o direito de opção da mulher, só contempla situações de doença, mal-formação do feto ou de violação.
Sou pelo SIM pois, sendo a maternidade consciente e responsável parte integrante dos Direitos Humanos, nenhuma mulher pode ser obrigada a ter filhos que não deseja.
Sou pelo SIM pois os actuais estabelecimentos de saúde e os que venham a ser criados têm condições para segura e humanamente fazerem interrupções de gravidez.
Sou pelo SIM porque respeito o direito e a capacidade de decisão das mulheres.
Sou pelo SIM pois nos anos 50 tive de recorrer a esta penosa mas única solução; quem sou eu para condenar?
Sou pelo SIM pois o medo, a vergonha e o risco de vida do aborto clandestino é dramático para certas mulheres, levando a traumatismos psicológicos e até a culpabilizarem-se.
Sou pelo SIM pois o Não implica também a continuação das grandes tragédias dos recém-nascidos abandonados no lixo por mulheres que não tiveram condições monetárias para abortar.
Sou pelo SIM porque trabalho com grávidas e casais e vejo, todos os dias, como é maravilhoso estar à espera de um filho desejado.

a) Graça Mexia
Psicóloga, Comissão Executiva do Movimento Tolerância


«A vitória do SIM à despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez por opção da mulher, feita até às 10 semanas com assistência médica - porque é disso afinal que se trata neste Referendo - assume um conteúdo profundamente democrático e progressista, perante a argumentação primária, desonesta, acusatória e revoltante utilizada pelos defensores do Não.
O aborto clandestino é um facto reconhecido na nossa sociedade como um drama social e de saúde pública, que afecta muitos milhares de mulheres e de famílias.
A vitória do SIM à despenalização é a derrota da demagogia e da hipocrisia, que constantemente se abate sobre o povo português, procurando com mistificações iludir e fazer esquecer as realidades.
O voto no SIM é um voto no respeito pela opção das mulheres, pelo direito que cada um de nós tem de decidir em consciência, neste como noutros aspecto da Vida, sem medos, sem pressões, sem chantagens, sem culpabilizações.
A vitória do SIM é a vitória da democracia sobre posturas retrógradas, de regressão social e civilizacional, que consideram criminosas e sujeitas a prisão mulheres que, pelas mais diversas razões, tiveram que pôr fim a uma gravidez. Porque não impede a opção pelo não. Porque respeita tanto a vontade de quem pretende, como último recurso, interromper com segurança uma gravidez não desejada, dentro dos prazos legais, como a de quem, por razões morais, religiosas ou filosóficas o não queira fazer.
Com a vitória do SIM ganham as mulheres e ganham os valores democráticos e de esquerda.

a) Rosa Rabiais
Secretariado do CC do PCP


«Avante!» Nº 1279 - 4.Junho.98